Hoje é daqueles dias de paz.
De pazes.
De sentir esse raio de sol que se esgueira entre tantas nuvens. Entre tantas chuvas.
Para me iluminar por dentro.
Fazer do sol amplificador para a luz que brilha em mim.
Em dia de paz.
Em dia de pazes.
Em dia sem dúvida. Sem ausência. Sem saudade. Sem falta.
Em dia tomado por você.
Desde quando fomos dormir juntos. Desde quando fui acordada por sua aparição. E o sorriso que me basta. Olhar. Saber que existe. Ser para mim. Ser comigo. Quando sorrimos.
Hoje é dia de tomar com as mãos juntas. Deixando escorrer os pingos. Como fora água de fonte.
Hoje é dia de juntar os farelos caídos como se fossem o último alimento. Por muitos dias. E merecesse ser cuidado. Dosado. Para nutrir nos dias de inverno. De guerra. De fome. De cigarra.
Hoje é dia de festejar. Glitter. Purpurina. Lantejoula. Carnaval fora de época. Mãos balançantes para abarcar e saudar e agitar-se junto a uma vida que, de repente, se faz carnaval. Encontrado na rua enquanto se caminha a esmo. A decisão de juntar-se à festa. E sê-la. Como se não houvesse cinzas. Nem quarta-feira.
Hoje é dia de caminhar contigo. Faça chuva. Faça sol – no dentro de todo jeito. Amplificando luzes internas. Que brilham. Mas não ofuscam. Ao contrário. Bruma que se desfaz. Névoa que se esvai com o crescer das horas. Tempo aberto. Tempo certo. Para a meteorologia do nosso clima.
Hoje é dia de grito alto. De deixar reverberar o eco. O som. Ondas que nos levam – no vaivém certeiro do mar – mas hoje só nos levam. Para além. Onde não há perigo. Obstáculo. Mar aberto. Porém baixo. Por onde entre possamos caminhar.
Hoje é dia de torpor. Embriaguez pequena. Não derruba. Não empena. Apruma – apenas. O que se tem lá por dentro. Sete quedas. Sete ventos. Me leva pra passear.
Hoje é dia de ser feliz. Quando não há desalento. Tudo o que for. Quatro elementos. Serão pelo nosso amor. Água. Terra. Fogo. Ar. Servindo para embelezar o que traz o pensamento.
Nem a cidade grande. Nem um descontentamento. Nem a dúvida. O medo. O não. Nem a tristeza de então. Nem o desvão do pavimento. Serão por nossos olhos vistos. Que venham os inimigos. Que pairem os sofrimentos. Não irão nos atingir.
Despidos. Vestidos. Com as armas de Jorge. Caminhamos por aí.
Nesse dia de paz.
Nesse dia de pazes.
Você me fala de sorrir. Alegria sua. Que é minha. E que tem muito de mim.
E a minha que é só sua. Porque vem toda de ti.
Deixo que venha. E me invada.
Mergulho na água doce. Pulo na água salgada.
Transpasso qualquer distância. Inocente tal infância.
Me abraço e me enrosco e me sumo.
Nesse espaço profundo.
Do amor por você.
Imagem de Somchai Sumnow por Pixabay