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DISCRIÇÃO

Não botei reparo na novidade. Quando entrei. Decerto assustada com a vida. A minha. Decerto atropelada com meus horários. Decerto bem na hora em que vou ao inferno – programa diário – e ainda não estava de volta.


Apontou-me com o dedo. Um berço desmontável onde dormia, vestido de amarelo, um cabeludo bebê, com ares e tamanho de recém-nascido. – Meu mais novo.


Eu fiz uma cara de que não estava entendendo. Esperando o fim da piada. O esclarecimento da brincadeira. A chegada de alguém que surgisse da porta da rua ou de algum espaço interno e se dissesse a mãe, acabando com o mistério.


Enquanto nada disso acontecia, refazia o tempo. Quando tinha sido a última vez que fui lá e não havia gravidez. Podia ser, nesse caso, um bebê adotivo. E que bela atitude seria aquela para uma mulher que eu via criar sua filha primeira, de uns quatro anos, ali mesmo, entre secadores e escovinhas. Esmaltes e perfumes para revenda. Em meio a brinquedos, livros e atenção constante da mãe e de clientes.


Ela sequer respirou para me contar tudo. E eu tive que propor uma pausa. Uma volta a uma e outra partes. Para poder entender. E então veio, em narrativa em modo rápido, uma história dessas de canal pago.


Não sentiu nada. O pequeno sequer se mexeu. E ela estava correndo. Mudando o salão de lugar. Cuidando da escola da mais velha. E de alguns problemas de saúde que exigiam a atenção da mãe. Estava cansada. Também ela com a saúde meio debilitada. Cuidando das clientes. Mandando as promoções por Whats App. Correndo. Mas estava engordando. Essa parte, de engordar, foi a que resolveu mais rápido. Tomou remédio para emagrecer. Mas foi só isso que fez de condenável em período tão sensível e restritivo como uma gravidez. O neném chegou saudável. Com uns dois quilos e poucos. Já engordou quase três. O médico disse que estava tudo bem com ele. Mas nasceu. Nasceu bem. Graças a Deus. Já pensou? Remédio para emagrecer? Mas olha ele aí. Mamando. Engordando. Saudável que só.


- Mulher!!! E o parto? Como foi o parto?


- Senti uma dor. Passei mal aqui. Chamaram os bombeiros. Foi normal.


- Nãooooo!!! Me conta os detalhes. Como foi quando você chegou no hospital? Como descobriram?


- Já fiquei lá. Já estava com dilatação. Foi parto normal.


- Pelo amor de Deus, me conta mais. Os bombeiros vieram e aí?


- Aí, me socorreram. Eu estava muito mal. Fizeram um ultrassom. Já estava com dilatação. Já fiquei lá.


- E os médicos falaram alguma coisa? Brigaram contigo?


- Falaram não. Foi tudo bem. Só não fiz o pré-natal. Mas ele não teve nada. Foi uma correria aqui. Todo mundo indo procurar fralda. Roupinha. As coisinhas para ele. Como foi normal, voltei a trabalhar depois de uma semana porque eu preciso pagar meus boletos, né? Ninguém vai pagar para mim.


– Agora somos 3D, né? Eu, a irmã e ele. Referindo-se à primeira letra de seus nomes.


Ainda segurando o queixo, dei de cara com um já acordado Daniel.


Sorri para ele. Perguntei como tinha sido aquela aventura de se fazer chegar sem dar sinal. E, para minha surpresa, ele sorriu muito e alegremente.


Concluí que estava mesmo tudo certo.


Nasceu bem. Graças a Deus.




Imagem de Karin Henseler por Pixabay




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