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A MULHER RICA

Ela é considerada a “rica” da família.

Contou-me isso. Como quem não acredita na alcunha. Mas ao mesmo tempo vê nela algum sentido. O de que faz jus aos seus esforços. Ao enfrentamento de tudo o que se colocou no seu caminho, como que para barrar sua existência e, estar viva para contar a história.

Uma história que decidiu agarrar pelos chifres, como fora touro brabo, no dito popular. E finalizar não com tragédia. Nem com felicidade para sempre. Mas com vida. Pulsante. Agarrada pelos chifres, como fora touro brabo, no dito popular.

Sonhou em ser advogada criminal. Mas não foi muito longe nos estudos. Sabe que foi abandonada pela mãe. E não tem certeza se a idade que acredita ter, lá pelos 42, é real. O registro veio muito tempo depois que chegou ao mundo. O motivo era legalizar a existência e alguns parentescos para a luta de alguns por dinheiros a que a menina teria direito, como dependente. Ou órfã. Não me recordo.

Sonhou em ser advogada criminal. Mas não foi muito longe nos estudos. Muito cedo foi doada ou entregue a uma família. sob a justificativa de ganhar um futuro promissor. E família. como se fosse a dela. E amor. Mas isso apenas nos argumentos utilizados para justificar que fosse ‘encomendada’ por uns. Recebesse a permissão de ir, por outros.

O que aconteceu mesmo é que aos nove. Cuidava da casa. Da roupa. Da cozinha. Das crianças. E não era parte. Apenas uma trabalhadora infantil. A sorte é que ninguém deitou em sua cama. De menina. Outras irmãs não tiveram a mesma. Sorte. Anos depois. Em algum momento saiu de lá. Ajudada pelo padrinho. Foi hora de fazer a própria família.

Quem quiser considerá-la a mais rica, pode mesmo. Ela é cheia de brilho. De sabedoria. De humor. Tem memória boa para guardar o nome dos clientes. Anotar as cervejas que deixam penduradas no auge da noite.

Para quem parar um pouco, há histórias divertidas. De como as crianças se acordam cedo. E ela que muitas vezes foi dormir naquela hora em que ouve as vozes infantis anunciando que raiou o dia, ainda arranja força para lhes preparar o desjejum. O que cada um gosta mais. As frutas. O pão assado na chapa. Ou o pão de queijo saído do forno.

Queria poder se dedicar mais à terra. Contou-me de gengibre e de açafrão. De cana de açúcar. E goiaba. Brotados em seu quintal. De flor e pé de pau. De vontades de ter mais ócio criativo. Mas tem muito é trabalho. E por ele. Aceita. Sim. Pode ser considerada a mais rica.

É brava. É mansa. Agarrou sua existência pelos chifres, como fora touro brabo, no dito popular. Se decidiram matá-la. Ela decidiu não morrer.

Afinal, quer sobreviver. Quer, sobretudo, viver. Ao lado do marido com quem divide a mesma lida. Juntos e separados. Em todos os rolês da cidade. Vendendo bebida. Distribuindo abraços. Compartilhando histórias. Anotando fiados no caderninho.

Homenageando aniversariantes ou amigos e amigas com um brinde. Tem clientela cativa. Sua vida faz diferença. Muitas vezes não dá conta de responder. A todos que a chamam. Maria.


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