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SENTIMENTO MATADOR

Ela não entendeu o pedido de perdão.

Vinha cheio de súplica – esperando um sim antecipado.

A ênfase. A repetição. Eram estratégias para nem o motivo precisar ser revelado.

Mas ela não entendeu o pedido de perdão.

Fez perguntas buscando sua gênese.

A resposto veio em forma de iceberg. Dominó desmoronando. Levou-lhe ladeira abaixo por meses. Anos. Agora não. Retomou o caminho. Mas a dor, quando buscada, aparece ao fundo. Como ponta de iceberg. Não tiver cuidado, também dominó desmoronando.

- Eu te trai.

Faltava pouco tempo para o casamento. Três dias para o chá de panela. Convidados chegariam em breve de outras cidades e estados.

Mas eu te amo.

Era tarde demais para cancelar? Era tempo de oferecer o perdão solicitado?

Me perdoe.

As respostas não estavam prontas. Haveriam de ser forjadas por entre as lágrimas. No meio da dor. Brotar do caos.

Não. Não perdoava.

Nem com a insistência toda. Nem com as novas promessas. Nem com o erro escancarado gritando – não voltaria a ocorrer.

Manteve a cabeça no lugar. Um tanto possível. Para forjar respostas. Por entre lágrimas. Dor. Caos.

Tudo o que precisou de meses para ser pensado. Preparado. Agendado. Contratado. Não precisava de muito para deixar de existir.

A agenda ficou cheia de itens para cancelar.

O chá de panelas foi mantido. Eram só três dias até sua chegada. Até ali, poucos convidados sabiam que ele não tinha mais motivos para existir. E que as panelas. E outros itens ofertados não comporiam mais o lar de um jovem casal. Seriam parte das dúvidas de uma ex-nubente. Jovem. E atordoada. Ferida de morte.

Para a festa deixou vir os que tinham passagens compradas. Não valia a pena mexer muito com outras vidas. Não espalhou as cinzas daquele amor-defunto insurgente. Ao contrário, juntou-as. Trouxe-as para perto.

Queria sorvê-las. Aspirar aquele pó. Enfiar na veia o veneno. Fumar em cachimbo aquele fogo de palha. Imortal posto que chama. Droga de amor. Tão frágil. Finalizado por perdão não concedido. Por descrença. Coração partido.

Meses depois, reconsiderou. Cedeu aos apelos. Não queria errar de novo. Pecar por omissão. Arrepender-se pelo que não fez. Diante da insistência, aceitou. Ver no que dava.

Nove meses depois. Como um parto às avessas. Pariu. O fim. Maturado. Escolhido.

Não era possível seguir. O amor virara outra coisa. Há tanto.

O infinito esbarrou em si. Só foi enquanto durou.

Dizem que é da natureza.

Do sentimento.

Matador.

Imagem de Gerhard Litz por Pixabay


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