Ontem senti o tal Sol em Leão. Fui tomada por ele. Senti-me brilhante. Ensolarada. Leve. Até jubas ao vento eu senti farfalharem no rosto-fera. Aproveitei bem aquela luz. Por saber que meu brilhar é natalino. Pisca-pisca. Que quando é LED dura mais. Fluorescente, queima rápido. Nem bem instalada. Me deixa no escuro. Me lega a escuridão. Ontem me senti iluminada. Mas não fiz alarde. Fogos de artifício sobem estrelam e morrem. E não quis parecer rojão. Ontem, toda faísca, me resguardei. Quem brinca com fogo pode se queimar. Eu nem me mexo para que nem eu mesma possa me acidentar. Mantenho silêncio. Guardo o segredo só para mim. Quem mirasse com óculos escuros, poderia enxergar. Sigilo. Escondido a sete chaves. Por lampejo tomada, olhei. Admirei tudo o que vi. Com medo de atear fogo com a centelha que saia de mim. Fiquei parada. Como quem espera. Relâmpago às avessas – fagulha atada. Trovão assustando-me. Aquele clarão de ontem. Gosto de sentir. Encadeava-me mundo adentro. Trazendo alento para o inverno interno que acabara de existir. Toda agasalhada de quenturas. Toda despida de fulgor. Tanto azul do céu-brasília me desanuviou. Respirei profundamente. Ar quente. Secura-imensidão. Fui tomada de vazio. Azulado. Anil. Rascante. Baixa umidade. Espero águas. Próxima estação. Ontem me disse psiu. Obriguei-me um shhh. Não quis gastar minha voz. Porque resplandecência sabe falar. Ontem o presságio astrológico me assolou. Fui atropelada. Por rodas sutis de astro incolor. Quem me visse não podia saber. Eu não faço alarde de quando em mim tudo arde. Sem doer. Poderia até falar de amor. Ontem. Senti vontade de você. Revi mensagens. Contei os dias do último encontro. Há tanto tempo. Eu juro. Se ainda aceitasse falar de amor, escreveria para você. Diria coisas doces. E queridas. Palavras amigas. Apagaria todas. Com medo de não acertar. Hoje acordei sem pele. Ressequida. Ressacada. De tanto iluminada com clarão de (me) afoguear. Ainda bem que fui discreta. Não apontei com uma seta o resplendor que pulsava. Em carne amaciada pela falta do seu beijo. Hoje acordei amarga. Brasa toda esfarelada. Em cinza que se abatia. Tive asco. Senti abuso. Fechei portas. Janelas. E suspendi escudos. Nada me abalou. Nenhuma luz clareou. Vivi escura de tudo. Ainda bem. Passou. E a fúria do leão não durou mais que um dia. Foi bom amarelecer. Destruir-me em fagulhas. Purpurinar. Sei quando os astros teimam. Em querer me despertar. Sei adormecer. Ontem falaria em amor. Hoje abraço a dor. Que também eu sei sofrer. Ontem acabou há tempos. Eu afoguei o rebento que de mim se insurgiu. Era todo faiscante. Choveu gota de brilhante. Na alma que me pariu. Hoje sou leão-leoa. Sem juba. Só muito instinto. Pronta para virar bicho. Grudar-me na jugular. Se hoje soubesse amar. Seu cangote era meu. Talvez entrasse no cio. Gozo. Pequena morte. Hoje eu gritaria. Meu dentro o abraçaria. Com o sangue que te cobriu.