Chega final de julho e, como quem não quer nada, a gente dá uma revisada nas metas propostas no final do ano passado. Não que elas tivessem passado por algum método cientifico ou estratégia de gestão para serem formuladas. Até lembro que um amigo perguntou quais eram elas e eu respondi: Nenhuma. Sem dar o braço a torcer para o susto de resposta tão vazia, de pronto ele disse: Ótimo. Não ter meta também é uma.
Entre as não-metas, uma sempre figura. Tão boba e de fácil consecução e, talvez por isso, por parecer sempre a mão, é uma das mais adiadas. A tal atividade física.
Nunca fui uma adepta contumaz de esporte. Costumo dizer que tenho episódios – em que me entreguei à malhação. Ao treino de corrida. Às caminhadas diárias de muitos quilômetros. Mas qualquer pausa torna a volta à tarefa quase impossível.
É um tal de agendar para amanhã e deixar passar. E procrastinar. E adiar. E esquecer. E preguiçar. E tantos outros verbos ou não-ações que nos distanciam do que queremos, que dá para perder a conta.
Considerei-me pronta para voltar a caminhar no parque, agora até bem mais perto de minha casa e, finalmente, entre o que não planejei, conseguir fazer algo que não sai da lista do bem-viver. O plano exigiu um passo a passo. Pensar na indumentária. No horário. No percurso. Na alimentação apropriada. E muita boa vontade. Estava, sobretudo, disposta a lutar contra aquela voz que me sussurra, mesmo quando estou no ponto de fazer algo, que é melhor fazer assim e assado. E blá blá blá. Até que eu desista. É minha própria voz. E decidi que a ela seria surda. Só por hoje.
Na estreia, estive quase sozinha nos quilômetros vencidos. O termômetro marcava 15 graus. O sol não dava sinais de que apareceria. Ao contrário, o céu vestido de cinza parecia ser também meu oponente. Baixei as mangas da camisa por baixo do moletom. Ergui o gorro por sobre a faixa que já protegia meus ouvidos, tão frágeis diante de baixas temperaturas. E apressei o passo.
“Dê um passo e não estará no mesmo lugar” era o que me dizia, parabenizando a coragem do dia. Dezessete minutos depois, eu voltava ao ponto de partida. A temperatura aumentara um grau e eu estava há quase vinte minutos e dois quilômetros a minha própria frente. Repeti o gesto.
Na segunda volta, não me interessava o tempo nem a distância. Tinha pego o embalo. Suava. Estava em ponto de ebulição. Quando o corpo já não se ressente. Apenas sente. O prazer de se movimentar. De transpirar. De respirar. De sentir-se capaz. De querer mais. De lamentar o tempo perdido. Ou não lamentar. Apenas decidir que é hora. De voltar às caminhadas. Realizar o que figurava como desejo inalcançável.
Ao final, impressionou-me o fato de ter me entregue a inimigo tão frágil. E mesmo assim, capaz de me fazer evitar por tanto tempo algo desejado. Não fazer algo cobra um preço alto. Zerar essa conta não tem preço.