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NEGÓCIO DE AMOR

Trabalha. Doze horas por dia. Toma remédios para dormir. Começou com relaxante muscular. Passou para tipos mais fortes da mesma droga. Evoluiu para tarjas pretas doadas por algum usuário detentor de receita. Até chegar a um médico especialista que prescreveu hormônio talhado para a missão de fazer alguém adormecer. Vítima de crises de ansiedade, buscou ajuda psicológica até ser encaminhada a um psiquiatra.


Passou a fazer terapia em busca de escuta qualificada e, vez por outra, procura videntes, astrólogos, tarólogos e afins. Também anda testando terapias alternativas ditas holísticas ou coisa parecida. Acredita que viveu o suficiente para conhecer o amor. Assim, a dois. Como manda o figurino. Sem traumas. Sem desespero. Sem tédio. Sem fim. Sem unilateralidade. Com beleza. Com entrega. Com reciprocidade. Não aconteceu.


Então, segue trabalhando doze horas por dia. Agora, quer encaixar nas poucas horas que restam (resguardando as do sono nas quais investe para alcançar), algo que traga um misto de prazer e alegria. Elegeu o álcool. Quer fazer parecer – não é só de esperas que passa o tempo ou que o tempo passa. Mas a espera é compulsória.


Queria mesmo amar. Mas se viveu o suficiente para conhecer o amor, capaz que isso não aconteça no tempo que resta. Com vaga crença de que ainda é possível, não deseja estar sóbria em todo o percurso. A literatura de autoajuda, consumida, vez em quando, para que receba algum conforto das palavras, traz o petardo. O amor aparece quando não é procurado. Nos dias em que a esperança viceja, acredita nisso. E sai por aí, fingindo que não quer nada. Assobiando pela calçada, enquanto espera cruzar os olhos naqueles outros, fazendo nascer um ‘à primeira vista’ para ninguém botar defeito.


Forja compromissos em lugares inauditos. Quebra a rotina. Sonha com viagens que tragam consigo a abertura do portal. O encontro sonhado. Podia até esbarrar na pessoa escolhida pelo destino, como tanto vê nos filmes. Quando cansa, manda tudo isso e mais sua vontade de amar, tomarem no cu. Aumenta o número de garrafas na geladeira. E de copos goela abaixo. Nunca acreditou em nada.


Se a vida resolveu brincar de gato e rato nesse negócio de amor, que seja. Não nega o sangue competitivo que corre em suas veias. Mas encarar queda de braço com os desígnios de Deus (ou do diabo) só para ter uma vida a dois. Nem pensar. Segue trabalhando. Doze horas por dia.







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