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QUANDO OLHEI PELA JANELA

Quando olhei pela janela foi como se visse os carros em câmera lenta. Moro com vistas para a saída norte da cidade. Por ali, até onde o olhar alcança, há sempre um fluxo intenso no trânsito. Luzes de carros da polícia piscam. Sirenes retumbam. Acidentes paralisam tudo e criam filas intermináveis de carros que levam pessoas ávidas por apenas chegar.


Mas nesse dia, ainda tentando abrir os olhos, recém-desperta, quando olhei pela janela foi como se visse os carros em câmera lenta. Lembrei no mesmo instante que era feriado. Então, percebi que feriados têm um ritmo próprio. Ou ritmo nenhum. As pessoas se lançam preguiçosas por algum caminho não planejado. Saem a esmo, driblando a vontade de ficar. Inventam pequenas necessidades. Não querem muito da cidade. Sabem que podem esbarrar em portas fechadas ou caras amarradas de gente que também queria estar atuando em câmera lenta, mas que teve que trabalhar.


Feriado tem cor própria. Mais intensa. Visível. Tem cheiro que a gente sente. De vento. Do clima que estiver fazendo. Os sons da cidade se fazem ouvir. Desde o grito ou choro de uma criança longínqua. Passando pelo latido dos cachorros levados a passeio. Até variados cantos de pássaros. Os motores também se fazem ouvir porque não se grudam uns aos outros. Ficam mais espaçados.


Quando lembrei que era feriado, senti um prazer reservado apenas a dias assim. Porque não é dia de semana – quando a gente se debate em meio a tantos afazeres e preocupações. E sai por aí, correndo o risco de virar autômato e não ver, não sentir, não ouvir nada do que o correr do dia e seus cenários têm a dizer.


Também não contam sábados e domingos. No primeiro, é dia de ir à feira, consertar sapato, levar roupa na lavanderia. Ir ao cabeleireiro – colocar visual e fofoca em dia. Acompanhar filhos em escolinha de futebol, aula de artes ou balé. É dia de pressa em respirar outros ares que não sejam ligados ao mundo do trabalho ou da rotina diária.


Mas ainda assim, de pressa. É muita vida aguarda para vir ao mundo em um único dia. E são só 24 horas disponibilizadas para tal. Há possibilidade de ter que atender convites para festas, churrascos, encontros há tanto adiados. É quando se quer ir ao bar. Comer uma feijoada. Encontrar amigos. Pedalar. Caminhar. Praticar o esporte adiado nos cinco dias anteriores.


O domingo segue a mesma linha. Mas é quando alguns acordam mais tarde. E dormem mais cedo, atormentados pelo espectro da segunda-feira que se avizinha.


A paz. Aquela paz sonhada mesmo. Fica perdida. Aguardada para um tempo distante. A única possibilidade de torná-la real, é quando vêm os feriados. É por isso que, quando olhei pela janela, quinta-feira, foi como se visse os carros em câmera lenta.





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