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FRENTE A MINHA ALMA

Hoje é um dia. Vinte e quatro horas a serem contadas. Algumas já se passaram entre os primeiros minutos da madrugada e o momento em que escrevo. Quando despertei, às cinco horas, a primeira sensação foi de medo. Antes de qualquer ritual recomendado para começar bem este dia, repassei o turbilhão de variáveis que têm me atormentado. Senti-me novamente comprimida. Ou atropelada. Tenho me sentido desamparada frente a tantas mudanças que se impuseram e a algumas que devo impor a minha rotina.


Tenho buscado viver a cada vinte quatro horas. Não antecipar, na mente, aquilo sobre o que não se tem muito controle – o futuro. Isso ajuda a lutar contra a ansiedade. A não se pré (ocupar). É o que dizem especialistas. Nalgumas vezes, consigo. Noutras, sou comprimida. Ou atropelada.


É quando desabo. Desando. Descambo. Descarrilho. Desesperanço. E grito. Um som inaudível. Desejoso de soar aos quatro cantos. Busco entender a raiz das emoções. As motivações. Ou falta delas. Para dali, do veneno, extrair minha cura. Nalgumas vezes, consigo. Noutras, sou comprimida. Ou atropelada.


Eu sei que vai passar. Porque tudo passa. Mas faltam-me ferramentas para uma espera tranquila. Respirar. Meditar. Aquietar (me). Ler. Trazer coisas novas para a rotina. Caminhar junto à natureza. Fazer um bolo. Tomar um café com amigos. Podia ser fácil. Plausível. Mas o que se pode fazer quando se está comprimida? Ou atropelada?


Eu sei que vai passar. Porque tudo passa. Então, busco ter paciência. Para ver arrefecer o efeito dos hormônios ou de qualquer outra fonte para meus conflitos internos. O inferno sou eu. Lembro-me da frase filosófica. Concordo com ela. Sei que nada do que me aflige está fora de mim. E se houver algo, deveria encontrar no meu dentro, sua fonte de controle. Ser aplacado pelo acúmulo de aprendizados.


Mas viro bebê. Página em branco. Zerada na fonte de sabedoria. Bucha que desabsorveu seu conteúdo. Feto revirado no útero – onde encontra nas águas turvas seu alento. Talvez eu quisesse isso. O colo da mãe. A mão dada. A possibilidade de ser frágil. A vontade de ser protegida. “Ficar grande é chato demais”, diz a canção. “Crescer dói”, diz o senso comum.


E eu. Eu mulher. Eu mãe. Eu-nada. Eu cansada. Eu desnutrida. Eu ressequida. Eu atordoada. Eu sem respostas. Eu esbofeteada por perguntas anônimas. Cheias de garra. Eu que não. Pára. Porque é preciso continuar. Caminhar. Não sei para onde ir. Ando meio desligada.


Hoje é um dia. E espero decifrá-lo. Não quero ser devorada. Abraço o vislumbrar das vinte e quatro horas. Há braços. Digo baixinho o que quero ouvir. Profiro palavras de ordem. Sussurro docilidades. Estendo as mãos. Entendo o emaranhado. Encaro o monstro. Enxergo as sombras. Dou as boas vindas.


Juro que tudo será visto no seu exato tamanho. E torço para não ser comprimida. Ou atropelada. Eu quero estar de pé. Desperta. Acordada. Íntegra. Nunca despedaçada. Frente a minha alma.



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