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PROCURA-SE UMA SEXTA-FEIRA

A sexta-feira foi dada como desaparecida, coitada. Logo ela, tão esperada. Tão redentora de cansaços, canseiras, pasmaceiras, desesperanças. Logo ela, tão grávida de bons augúrios. O objetivo de todo começo de semana. Chegar a ela.


Deixar que as pessoas gritem nas vidas real e virtual a tal expressão “sextou”. Deixar que os olhos brilhem diferente e sorrisos se agigantem frente ao lapso de tempo que promete só alegria. Como bom anúncio publicitário. Linha de chegada após uma maratona semanal de sabe-se lá quantos leões mortos a cada dia.


A sexta-feira em questão foi precedida por chuva repentina, que tirou da rua quem se esparramava nela para sentir brisa que não vinha. De repente, correria. Cadeiras e mesas de bares sendo postas sobre as cabeças como trouxas de antigas lavadeiras. Passos rápidos na direção de amparo – marquises e toldos que pudessem estancar os pingos grossos e fartos que não se fizeram avisar.


Quando veio a luz do dia, a sexta-feira foi acompanhada por sol que migrou de morno para quente em minutos. Seus raios deram novas matizes ao cenário da cidade. Cruzaram frestas nas copas das árvores. Aqueceram cachorros e crianças em banhos de sol. Tiraram gotas de suor de ciclistas matinais. Tornaram lento o caminhar dos pedestres.


Era cedo. Mas já estava quente. A meteorologia, que não previu a torrente da madrugada, dizia que o sol não se deixaria abater por ela. Portanto, haveria calor nas próximas horas. Uma sexta-feira quente era o desejo realizado de todos os que esperaram por ela a semana inteira.


Pois essa mesma sexta-feira vistosa foi dada por morta. Recebeu condolências pelo sumiço – de duração indeterminada. O fato deixou desesperados. Cabisbaixos. Reclamantes. Quem não contava com o imprevisível acontecimento.


O dia fora impedido de começar. Logo ele. Logo a sexta-feira. Cujo arrastar-se era seguido por contagem regressiva. Até que os compromissos fossem todos cumpridos. Até que pudesse ser desnudada – sem pudor. E entregasse seus encantos. Mistérios. Segredos. Dos que só uma sexta-feira tem.


A sexta-feira sem paradeiro conhecido. Usurpada no seu direito. Impedida no seu dever. De ser como sempre. Prover abnegados trabalhadores das ferramentas necessárias ao bom andamento de suas funções.


Teria saído para dar um passeio? Livre das expectativas impostas por quem deposita nela esperança de, ao menos, um dia melhor? Teria decidido dar fim à própria vida para desanuviar o peso que carregava nas costas? Teria sido raptada por vilão inescrupuloso, do tipo que rouba serendipidades?


Apenas quando a energia deu sinal de vida. Apenas quando a Internet foi restabelecida. Decretou-se: “Enfim, voltou a sexta-feira”.




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