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OPORTUNIDADES PERDIDAS

Todo fumante já participou de roda de conversa para falar sobre o incômodo de ser abordado por alguém que pede um cigarro. Mil teorias são discorridas. Há quem conheça, há tempos, aqueles que nunca compraram uma carteira. Dedicam-se a pedir um cigarrinho aí.


Tem o tipo que nunca fumou, mas só para não perder o hábito, de pedir, interpela você, sem pudor, em busca de matar a vontade.


Há os lugares em que estar fumando é garantia certa de que você será abordado por pessoas desconhecidas, enfáticas e, muitas vezes, agressivas. Para elas, o seu dever de lhes entregar um cigarro é compulsório. Costuma acontecer nas janelas dos carros ou em lugares superpovoados como a Lapa, no Rio de Janeiro. Ou um samba, no Setor Comercial Sul, em Brasília.


Algumas pessoas nos confrontam com sua forma de abordagem. “Você pode me vender um cigarro?”, perguntam.


Foi o que ouvi, ontem, em evento cultural no Parque da Cidade. – Não. Respondi. Minha amiga, que estava perto, entrou na conversa e disse: - Ah, dá um cigarro para ela. Eu pretendia fazer isso. Como não gosto quando alguém me diz para fazer o que eu já ia fazer, por birra, segurei a negativa.


“Eu não vendo cigarro. Deve ter ali”. E apontei para uma tenda com um mostruário iluminado de marcas e tipos diferentes do produto. – Não tem. Já fui lá.


Resolvi baixar a guarda. “Olha, eu posso te dar um cigarro. Mas vender, não é comigo”. A moça disse que a proposta era porque sabia que eu tinha tido um custo e queria cobri-lo e tal.


Entreguei o cigarro. Olhei para ela. Pensei que eu devia estar sendo mais empática e festiva. “Mana, é claro. Olha aqui. Fica com dois. Tamo junta. Ninguém solta a mão de ninguém. Quer o isqueiro?”. Mas fiquei em silêncio.


Quando a música ao vivo começou, olhei para o palco e identifiquei a cantora como sendo a mesma pessoa que me pedira o cigarro. Aquilo deu uma reação adversa.


“Tá vendo? Negou um cigarro à cantora”, disse minha amiga. A gente riu. Foi quando ela lembrou da história de alguém que, morando no exterior, atendeu o interfone na madrugada. Quando perguntou quem era, ouviu um ‘Bono Vox’. E respondeu: Ok. Sou Madonna.


Não abriu a porta. E não pensou mais naquilo.


Pela imprensa, no outro dia, soube que o artista estava na cidade. Ela não era Madonna. Mas ele era Bono Vox. E tocou a campainha da sua casa atraído pelo som da festa que acontecia lá. Tinha ido visitar um músico famoso no mesmo prédio. Errara o apartamento.


Ela perdeu a oportunidade de conhecer o cantor. Eu perdi a oportunidade de conhecer a cantora.



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