Naquele domingo estiveram juntas. Mas bem distantes uma da outra. Havia um continente como empecilho para que se olhassem nos olhos. Não adiantou. Estiveram em rede. E como se ainda fossem as crianças, cresceram juntas. E não pela passagem do tempo. Mas pela troca de experiências. Pelo bate-papo. Pelo entrega. Pelo desafio. Aliviar as tristezas. Confortar as angústias. Modificarem-se sem demora. Uma cura de mão dupla. Em tempo real. Tal como a necessidade daquela interação. Real.
No começo, a voz desinteressada. Preguiçosa de tentativas. Depois, a empolgação. Uma vontade ainda incerta de seguir com a brincadeira. Tão séria. Agora que haviam crescido. O pacto. Ainda que não verbalizado. Ainda que sem gotas de sangue apertadas uma contra a outra para selá-lo. Era só vontade. De crescerem juntas.
Falaram sobre motivação. Sobre o que as afeta pelo afeto. Sobre o que gostariam de fazer. Sobre o que fazem – mesmo que quase vencidas pelo desânimo. Sobre o que estava pendente mesmo que fosse alvo de paixão. Sobre todos os se, os senões, os entretantos. Concluíram que todas as sementes já plantadas estavam latentes – como é da natureza das sementes.
Naquele dia, como se ainda fossem crianças, regaram-nas todas. Pela palavra. Já não havia distância uma da outra. O continente desvanecera-se. Pelo encontro. Pela voz. Pela coragem em se desnudar diante da outra. Pela palavra. A nudez abençoada. Estavam de alma lavada. Verdades desentranhadas. Eram pequenas. E não por evocar a criança que haviam sido juntas. Eram pequenas diante da grandeza do que foi acontecendo.
Uma ensinando à outra. Acalentando-se. Incentivando sonhos. Com o cuidado que os sonhos precisam receber para não se retraírem diante de si mesmos. Realizaram juntas. Ideias de escrita. Uma estava em pleno exercício. A outra, largara as palavras – talvez pela força que elas têm em mantê-la viva. Altiva. Pulsante. A força precisa ser tratada com leveza para que não atropele.
Primeiro, escolheram uma foto em comum. A partir dela, comporiam um texto. Cada uma a seu modo. Partindo de uma inspiração única. Deram-se o tempo necessário à criação. Ansiosas. Verteram palavras. Uma sobre o papel. A outra, sobre o teclado. Pronto? Prontas? Era hora da leitura. Atenta. Seguida pelos comentários. Entremeados pelo prazer. Da produção. Do feito. Melhor que o perfeito. Os estilos eram bem diferentes. Uma se assustou. A outra se divertiu com o efeito causado. A outra foi pueril.
Veio o regozijo. A surpresa. A alegria. O romper das amarras dado como certo. Sorriram. E como se ainda fossem as crianças, cresceram juntas.