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CANSEI DE SER DEFINITIVA

A gente também mente para si mesma. Estou disposta a entender as minhas mentiras. Sinceras. Esmiuçá-las. Desmascará-las. Chegar o mais próximo das verdades mais verdadeiras sobre questões internas. Cansei de dizer “eu” e continuar a sentença com certezas petrificadas. Jurássicas. Que talvez digam o contrário do que eu penso. Acredito. Desejo. Chamam a isso de máscara. De persona. De aparência. O que, afinal, do que demonstro ser, pode ser chamado de meu?


Cansei de dizer coisas definitivas. Como “não sei”, “não faço”, “não vou”, “não gosto”. Quero me abrir em um grande sim – mar de possibilidades. Mar aberto. Engolindo dogmas. Certezas. Necessidade de definição. Desconstruir-me com delicadeza. Sem implosão. Sem britadeira. Só observação.


“Acho que você não é muito confiável” – me disse meu irmão. Porque atrasei. Esqueci. Furei. Não sei. Um compromisso com ele. Achei divertido ouvir isso. Tomei até como elogio. Mas havia algo de sério ali. E eu quis saber a razão. Marco muitas coisas ao mesmo tempo. chamo muitas pessoas para o mesmo lugar. Junto desafetos no mesmo espaço. Desisto dos compromissos na hora H. Fico deprimida e incomunicável na hora em que devia estar na festa. Coloco tudo no saco do “eu sou assim. Quem quiser gostar de mim, eu sou assim”.


Parece demonstrar intimidade e cumplicidade ter alguém que atura ou aceita ou perdoa algumas das nossas características atávicas sob a alcunha de que não temos jeito mesmo. É amar. Ou largar.


Agora, já duvido também desta assertiva. Se tudo se refere a nós mesmos. Se para tudo há remédio (só não para a morte). Se nosso compromisso no mundo deve ser o autoconhecimento, o espiar de carmas/pecados. Então, dá para espanar a poeira. E fazer da nossa pele um tapete limpo. Novo. Renovado.


Então, me determino a tomar cuidado com palavras e atitudes. Negativas. Aceites. Pode ser que esteja dizendo ou fazendo justo o contrário. Há desacerto na minha alegria? Na minha lágrima? Nas minhas companhias? Na minha solitude? Na minha solidão? Há compromisso ou desleixo em relação às impressões que emito?


Falando assim, me pareceu que posso, a essa altura da vida, estar dando importância ao que me propus contrariar confrontar ignorar. O julgamento alheio. Será que é isso? O que quero é afinar meu próprio julgamento. Sem que tenha que emitir sentença final. Quero ser transparente aos meus olhos. Se isso for possível.


Se eu digo. Sou. Faço. Quero. Acredito. Interlocutores não têm do que duvidar. Tenho a presunção da inocência. Por vezes, me surpreende a confiança depositada. Ora, sou humana. Erro. Falho. Confundo-me. Metamorfose ambulante. E se saio ferida. Confusa. Arranhada. Perdida. Das minhas próprias convicções. É que elas estão emboladas. Devo soprar a casca. Como se faz com o feijão que seca no terreiro. Enxergar o que fica. Tem nome isso? Coerência? Encontro? Desfalecer-se?


Cansei de ser definitiva.


Quero ser mutante.



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