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A BELEZA DE SER. ESTAR

Tenho reparado em como usamos justificativas.

Desse “estudo” surgiu uma hipótese.

Elas servem mais a nós do que aos outros – os que costumam ouvi-las.

É fácil perceber isso quando relatamos um problema até ali sem solução aparente.

Nada do que o interlocutor nos diga é capaz de convencer. Porque respondemos com precipitação e negativas. Sequer tentamos. Ou atentamos. Refutamos. Apenas.

Talvez por estarmos acostumados ao barulho interno. Afogados em um mar vazio e inexistente. Submersos nas ondas criadas por nossas mãos. Mergulhados em águas rasas produzidas por nossa visão turva.

A lástima do sufocamento é o uso improdutivo das palavras.

Fico com dó.

Delas.

E de quem faz seu mal-uso.

Depois de pegar a artimanha em flagrante, seguimos na intenção de debelá-la. Com o exercício é fácil desmascarar a nós. E aos outros.

Desmascarados, é hora de escolher. Seguir (nos) enganando ou trabalhar com afinco para mudar o padrão.

Derrubar dogmas.

É como se ouvíssemos o começo da conversa sabendo o final.

É infantil.

Deve ser também por isso que pregam o acolhimento à criança interior que existe (e resiste) nos adultos.

Por um lado, é bom tê-la. Reconhecê-la. Cuidar dela direitinho. Ofertar os doces e abraços desejados. Passar a mão na sua cabeça. Deixar que durma em posição fetal. Exposta em toda a sua fragilidade.

Pés sem meia. Nariz escorrendo. Querendo colo. Barriga roncando.

Por outro, faz-se urgente conter as birras que fazem (os) no supermercado.

Abraçar a nós mesmos por cinco minutos. Para dizer que aquilo é feio.

Inapropriado. Olha o coleguinha. Tão bem-comportado. Olha para os lados. Nenhuma outra pessoa está usando de artifício tão torpe.

Negócio é abrir a guarda. Levantar com cara de cachorro magro. Bater a poeira da roupa. E da alma.

Botar coleira e focinheira nesse bicho. Fosse outro, serviriam as rédeas. E o cabresto. Somos nós.

Precisamos ser domados.

E adestrados.

Para nos equilibrar em cima das tábuas que nos recobrem. Voar nas cordas que nos amordaçam. Sentar. Deitar. E dar a pata. Morto.

Para receber o torrão de açúcar. O afago nas costas. A bola jogada longe. Os aplausos. O refletor com foco único. Sobre nós. E nossa luz.

Para cada “mas” que dizemos há uma resposta oculta para o que nem perguntamos.

Mais vale a dúvida que alimenta. Transtorna. Do que assumir a resposta. Do que calar o excesso. Do que nos entender. E evitar as justificativas.

Elas servem mais a nós do que aos outros – os que costumam ouvi-las.

Adotar postura nova investida de liberdade e segurança e poder oxigena. Irriga. Fertiliza. Abre espaços.

Exige novos usos da liberdade segurança poder.

Copo vazio.

Cheio de ar.

A plenos pulmões.

Gritar.

A beleza de ser.

Estar.


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