Foi assim que me ganhou.
Coisas ditas.
Muitas.
Em profusão.
Sem parcimônia.
Coisas que eu nem entendia.
Nem você.
Porque seu compromisso era com dizê-las.
Não explicá-las.
Confundir.
Confundi-las.
Lembro-me do primeiro telefonema.
E de como eu sorri do outro lado.
E de como passaria todas as horas seguintes ouvindo-o.
E sorrindo do outro lado.
Desde sempre não consegui acompanhá-lo.
Mas gostava de ouvi-lo.
Não tinha respostas.
Nem tamanha sagacidade.
Nem saberia o filme, o poema, a prosa, a canção.
A colcha de retalhos costurada por suas predileções.
Alinhavada por sua memória.
Montada por sua beleza.
Admirei tudo o que falou.
Com a intensidade que havia em mim.
E mais a que desconhecia.
E a que adorei conhecer.
Deve ser como o analfabeto mira o alfarrábio.
Deve ser.
Deferência por sua capacidade.
Sagacidade.
Humor.
Gestos fartos.
Imaginei que passaria a vida sorrindo do outro lado.
Você me alertou.
A tristeza é uma forma de egoísmo.
Eu vou te dar. Eu vou te dar.
E foi egoísta.
Porque só agora decidiu ser canalha.
E fdp.
E pediu licença ao lirismo.
Para ser mais.
Por exemplos.
Não tenho.
Para te exemplificar.
Esse boneco tem manual.
Fases como a lua.
Perdição da minha vida!
Perdição da vida minha!
Já pisamos as pontes.
Atravessadas.
Atravessaram o tempo.
Largando suas tábuas.
Nunca mais o mesmo rio.
Seremos outros.
Não pula.
Corda de macarrão não (é) segura.
Tudo se desfaz muito rápido.
Até os nós.
E o nós.
Decisão de canalhice?
Burrice.
Uma hora ou outra somos todos.
E você concorda.
O relógio já deu sua corda.
Não pensa no prazo.
De sofrer.
Curto.
Longo.
Meio a meio.
Eu gostava do tempo em que me fazia sorrir.
Inteira.
Inteiro.
Naquele tempo eu acreditava.
Há tanto.
Na volta nos perdemos.
Ninguém se perde.
Só nós.
Nossa gênese é assim.
E você queria era ser canalha no existir.
Vá se mande.
Junte tudo o que você puder levar.
Cate suas palavras.
Fume rosa com tabaco.
É insuportável.
Mas é olfato.
E seduz.