As aparências enganam.
Foi nelas que se baseou para tentar uma certeza que jamais teria.
Teria sido enganado?
A moça chegou com ares de desespero. Pedia ajuda. Estendeu a mão com umas poucas moedas espalmadas. Queria mais algumas.
Foi roubada, dizia.
Desejava apenas chegar em casa. Não no DF, mas em Goiás. Precisava de um valor considerável para fazê-lo. Pouco mais de R$ 9.
Qualquer acréscimo ao que já havia arrecadado era válido. Não precisava de tudo. Continuaria estendendo a mão até chegar ao suficiente.
Ele não procurou saber como tinha acontecido. Considerou uma necessidade muito grave querer chegar. Não poder.
Em poucos segundos decidiu atendê-la. Analisou a carteira. Em tempos de dinheiro plástico não estava bem certo se encontraria ali algo que pudesse minorar o sofrimento que se apresentava em forma de uma mulher jovem, bonita, bem vestida, até.
Carregava uma bolsa. Estilosa.
O objeto podia ser a pista que faltava. Não teria sido levada pelos infratores em caso de roubo?
Encontrou uma nota. R$ 10.
Era mais do que ela precisava e que poderia imaginar que receberia de uma só vez, disse.
Quis deixar como troco ou como troca as moedas que tinha.
Ele não fez questão.
Ela partiu aliviada e agradecida. Deixou bons augúrios, como é comum em situações assim.
Ele permaneceu. Sentado. Intrigado. Fez a reconstituição dos fatos para, quem sabe, intuir a resposta.
Teria sido enganado?
Ela só viria se desse de cara com a mulher repetindo a cena pelas ruas da cidade.
Era improvável. Mas já ocorrera. Certa feita acreditou nas lágrimas de um rapaz que contava um infortúnio qualquer e solicitava uns tostões para reparar o dano.
Se homem não chora nem por dor nem por amor, deviam ser sinceras aquelas lágrimas.
Aquele dissabor, golpe do destino, era capaz de ter ocorrido.
Ajudou.
Não pensou mais naquilo até o dia em que viu o mesmo rosto exibindo o mesmo chororô.
Se um raio não cai duas vezes no mesmo lugar, era alvo de um pequeno golpe.
Quis correr atrás do malandro. Aplicar-lhe umas boas reprimendas. Deixar claro que a farsa havia sido descoberta.
Deixou passar.
Agora, com a cena repetida, pôs-se a questionar por que queria saber aquilo.
A verdade.
Não importava, afinal. Partiu da sua perspectiva. Fez o que sentiu vontade. O que parecia correto e justo. Valeu a intenção. Dele. A dela era ainda mistério.
Cogitou que o roubo podia ser coisa para boi dormir. Mas a falta de grana, sim, era possível. E por várias razões. Uma mulher. Vítima dessas coisas que acontecem com mulheres. Tantas. Quem sabe?
Ficou com a grandiosidade do argumento.
Foi o que disse a ela, nota entregue.
Vá para casa.
Para ele, acabava ali.
Teria sido enganado?