MUITO PRAZER. FRIDA DO CERRADO
Chamaram-me assim.
E achei bonito.
Mas não sabia.
Se elogio ou insulto.
Se força ou desestímulo.
Se continuidade ou término.
Se crível ou inverossímil.
Ser Frida não é tão difícil.
Muita gente tem optado por isso.
Em fantasias de carnaval.
Ensaio fotográfico.
Exposições.
Produtos.
Imagens.
Viagens.
Casa Azul.
Ter sido Frida foi dor e delícia.
Intensidade.
Rasgos.
No corpo.
Na alma.
Liberdade.
Vingança.
Últimas consequências.
E primeiras.
Amor.
Dor.
Homens.
Mulheres.
Prisão.
Liberdade.
Corpete/colete.
Sapato adaptado.
Perna amputada.
Tentativa de suicídio.
Filhos malogrados.
Traição.
A cama maculada.
Casar com o ex-marido.
Morar na casa ao lado.
Expressar-se.
Pintar.
Deitada.
Não o surreal.
Foi recusado.
Mas o real.
Ou o que parecia ou quereria irreal.
Porque dor.
Limitação.
Sacrifício.
Pôs tudo no caldeirão.
Virou arte.
Explosão.
Implosão.
Cores.
A escolha por ser ela mesma.
E o esforço em descobrir quem era.
Suas origens.
Suas roupas.
Seus tecidos.
Seus enfeites.
Seus anéis.
Foi até o fim.
Qualquer coisa pode ter sido a gota d’água.
No pulmão.
No sangue.
Nas veias.
Esperou alegre a partida.
Esperou não retornar nunca mais.
Retornou.
Todo dia retorna.
Em fantasias de carnaval.
Ensaio fotográfico.
Exposições.
Produtos.
Imagens.
Viagens.
Casa Azul.
Em aprendizados.
E ensinamentos.
É ícone.
É calo.
No sapato.
De quem jamais será.
Porque cala.
Boca.
Cerrada.
Falta muito.
Para que eu seja.
Ou chegue perto.
Nem que seja do Cerrado.
Ser Frida.
É para nenhuma mais.
Estou mais para retirante.
Pau de arara.
Nordestina.
E isso também (me) ensina.
Muito prazer.
Quereria eu ser, quem sabe.
Frida do Cerrado.