Ele insiste.
É menino.
Pobre.
Livre.
Rejeita a tecnologia.
Porque é rejeitado por ela.
Inalcançável.
Inatingível.
Custa muito.
Para ele o brinquedo melhor do mundo.
Uma pipa.
Porque voa.
Porque é leve.
Porque ele está no comando.
Movimentar as mãos.
Controlar o carretel.
Dar linha.
Ou não.
A pipa sobe a perder-se de vista.
E volta.
Flutua.
Nem se vê o fio.
De ligação entre ela e o menino.
Bom mesmo é isso aí.
Dominar o vento.
Estar nas alturas.
Correr de cabeça para cima.
Acompanhar a fuga do brinquedo.
Tentar ser mais rápido.
Alcançá-lo.
Para recomeçar.
E sorrir.
Como menino.
Pobre.
Livre.
Que insiste.
Em guardar uma coisinha de nada de uma infância que valha a pena.
Como deveria ser.
Escapou. A danada.
O menino conhecia o jogo.
Era pique-pega.
Com pipa.
Ele perdeu.
Dessa vez.
A última.
No afã de agarrar a companheira de liberdade, ficou preso.
Em fios elétricos.
Pulou o muro e entrou na subestação de energia elétrica da Companhia Energética de Goiás (Celg), em Goiânia.
90% do corpo queimados.
Aos 11 anos.