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INTEIRAMENTE ALEGRIA

Costumo ignorar todas as listas. Apontam o que se deve fazer, ouvir, comer, conhecer, ler.

Antes de morrer. Porque as listas insistem nesta obviedade.

Teria que ser nesta vida mesmo. Porque duas mesmo, segundo Vinicius, ninguém vai dizer que tem.

São limitantes. Excludentes. Capitalistas.

Tenho o direito de formular a minha. Com tudo o que eu devo fazer, ouvir, comer, conhecer, ler (antes de morrer).

Nela estaria contido até o que nem sei, mas ainda vou descobrir. Como um dever perante a vida.

Na minha lista imaginária e ainda incompleta decreto, como fez Thiago de Mello, no seu Estatuto do Homem, que todo mundo deveria conhecer uma pessoa. O companheiro/amigo de muitos tempos, Jair Lima.

Quem conhecê-lo por agora, no entanto, sempre sairá perdendo. Pois deveria tê-lo conhecido em Campina Grande, como eu, há mais de vinte anos.

Ter vivido um bom par de histórias divertidas que só ele é capaz de protagonizar, viver junto ou fazer acontecer.

Tendo o conhecido então, teria estado com ele no Rio de Janeiro, para onde se mudou mais ou menos na mesma época em que vim morar em Brasília.

Passeado com ele pelas Laranjeiras, Botafogo, Lapa, Baixo Leblon, Humaitá. Copacabana. E tanto mais.

Circulado nas altas madrugadas, falando as bobagens pertinentes ao horário.

Passado a noite em observação no hospital e, a despeito de estar doente, rir até adormecer.

Não pela doença. Mas pelo cansaço de tantas risadas.

Acordar na padaria como se a noite tivesse sido passada na saúde e não na doença.

Ainda no Rio de Janeiro teria passado das três da tarde até amanhecer tomando chopp e comendo tira-gosto - dos mais chiques e tradicionais restaurantes até a beira da esquina.

Teria tomado uísque no Baile do Almeidinha e dançado até suar. Cansar.

Teria se atrasado para o show de Elba Ramalho porque ainda era preciso um último gole para o encontro com a conterrânea.

Teria circulado com o teto solar aberto para a lua entrar, cabeça para fora, vento despenteando.

Som ligado.

Bocas cantarolando, gritando, de Fafá de Belém aos cantadores de forró nordestino.

Mãos levantadas saudando ruas, moradores, passantes e mendigos na mais louca alegria que se possa imaginar.

Teria sido cercado por seguranças de prédios de luxo ao estacionar o carro para cantar Morte e Vida Severina com vigor. Entranhas expostas. Interpretação visceral.

Desafinados.

Falaria com ele, quase todos os finais de semana, sábado ou domingo ou os dois, por horas seguidas.

Teria conversado com ele todo esse tempo, sobretudo sobre coisas que não existem.

Porque na nossa amizade há espaço – e muito – para conversas sobre o que criamos e estão apenas nas nossas longas prosas.

Temos, por exemplo, uma banda. Java. De Jair e Waleska.

Na estrada há décadas.

Falamos sobre a carreira, o próximo trabalho, a atuação da nossa empresária, Kaline, o repertório, as viagens, o cachê.

Marcamos as próximas apresentações. Concedemos entrevistas. Muitas delas ao Vídeo Show, para quem mandamos nosso alô.

Repetimos os bordões que criamos juntos.

Falamos sobre isso com a gravidade que uma vida paralela exige. Humor. Dos bons.

Jair está na minha lista porque uma metade de nós é amor.

A outra também.

E somos inteiramente alegria.


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