Era para ser um debate. Ou uma manifestação.
Não tinha nome: só o verbo indicando a ação a que o evento se propunha: Anular.
Havia até um bom tanto de gente.
Embaixo do toldo, alguns ouviam Chico Buarque, interpretado ao vivo. Mas não se tratava dele, o ícone sobre o qual o jornalista escreveu recentemente que era preciso voltar a amar. Soube estar na Alemanha, com a nova namorada, visitando o irmão alemão.
Mas um cantor e violonista que até não fazia feio. Só não empolgava a plateia que talvez pelo cansaço inerente ao pingo do meio dia, parecia só querer aproveitar da função das cadeiras ali dispostas.
Muita gente se dispunha a enfeitar o lugar, meio da rua, com grandes bandeiras vermelhas ou faixas em que se via algo que não pude ler – não que as letras fossem miúdas. Só não me detive a fazê-lo.
Os vendedores surgiram aos montes e ali virou quase uma feira livre a céu aberto. Frutas, sanduíches, churrasquinhos. Mesmo que faltasse ação política não faltaria comida. Isso era bom.
Na estrutura de restaurante self service a placa que indicava comida nordestina a R$ 10 ou R$ 8, a que o público respondeu de bom grado, consumindo a valer e talvez matando a saudade de algum sabor deixado para trás quando se partiu para a capital do país em busca de vida melhor e funcionalismo público.
Encontrei um amigo por lá, que não cheguei a cumprimentar porque disse que estava com forte gripe e que eu mantivesse distância. Segui o conselho sob pena de adoecer às vésperas da noite de São João. Não se brinca com os vírus.
Quem se deu bem ou melhor que os outros, segundo a minha parca avaliação, foi a vendedora de brincos. Ou o vendedor. Não deu para saber sexo ou gênero porque havia muita gente, notadamente mulheres, em torno de seu comércio.
Dali não se via mais do que braços e mãos agitando pequenos objetos dourados, prateados e/ou coloridos e procurando a orelha e um espelho para um teste rápido de aprovação.
Se não houvesse debate, manifestação ou anulação haveria lucro para todos, pensei.
Especialmente para quem resolveu vender as bijuterias. Imaginei que os preços deveriam ser de banana. Há muito tempo não via uma banca tão concorrida, principalmente em se tratando de ato público.
As pequenas e práticas sobremesas também fizeram sucesso. Os vendedores de dindin, por exemplo, lamentarem não ter previsto tal sucesso para, assim, aumentar os estoques e o lucro.
Em tempos de desemprego e vacas magras esse era um erro imperdoável.
Considerei que o evento todo, previsto para ser encerrado às 16h, com uma marcha, era uma boa pedida.
Se não servisse para anular o impeachment e derrotar o golpe teria, ao menos, promovido um burburinho e agitado o final da manhã e início de tarde de muita gente na Esplanada dos Ministérios.