O que fazer?
Há uns dias a pergunta era o que não fazer?
Esperava uma resposta que podia ser sim ou não – até aí não havia novidades.
A maior parte das respostas se enquadra no binômio.
Tem 50% de chance de ser positiva, a outra metade negativa.
Não gostava da pendência.
Irritava-se com a falta de controle sobre o destino – até aí não havia novidades.
Ninguém tem controle sobre o destino. E sempre se arrepende quem pensa o contrário.
Pois eis que chega a roda viva e carrega o destino pra lá.
E quando roda mundo, roda gigante, não fica pedra sobre pedra.
Teve que ter a paciência de estar pisando nos ovos das pendências.
Isso é astúcia da vida.
Testando sabedorias adquiridas.
Cozinhando tudo em fogo lento para depois eclodir em brasa ardente.
Só tomou consciência de que o talvez era a melhor variável com a qual podia lidar, agora, quando veio a resposta da pergunta.
E era um sim.
Agora tudo que estava morno, entrara em ebulição.
E mesmo que estivesse se sentindo pronta para o que ouviu, pareceu ser pega de surpresa.
E se fosse só a surpresa até que estava bom.
Mas foi pega de calças curtas. Com medo. Insegurança. Dúvida. Senões. Folhas em branco precisando mais do que de tintas e tempo, de coragem. Muita coragem.
Precisaria desbravar um novo mundo interna e externamente.
Recomeçar.
Nunca gostara mesmo de continuidades. Gostava de zerar tudo, apagar, rasgar a folha e testar seus limites, seu conhecimento, sua capacidade de adaptação, seu grau de resiliência.
Era uma sobrevivente. Era forte. E quebrara algumas das probabilidades que o seu futuro encerrava.
Era self made woman.
Saíra do interior do interior e na cidade grande construía o seu presente e o seu futuro, tendo o cuidado de deixar ali só o que importava. Só queria saber do que podia dar certo.
Mas como saber se daria certo dessa vez?
Não teria como.
Estava mais uma vez impelida a recomeçar.
O bom é que nada era imposto. Era decisão. Era resultado. Era fruto de semente plantada.
Estava 70% tranquila. O resto era suficiente para torrar toda a sua sanidade mental.
Tinha agora 50 dias.
E por isso perguntava-se o que fazer.
O que se faz quando se tem os dias contados? Quando a contagem é regressiva?
Como não se perder? Como aproveitar? Como fazer render o tempo?
Ia fazer uma lista.
Não queria esquecer nada. Ninguém. Nenhum lugar.
Sentia que podia ser traída por si mesma e não gostaria de carregar o remorso.
Por isso a lista.
Mas como enumerar a vida?
Como numerar o que teria que fazer em 50 dias?
Isso seria soma ou multiplicação?
Teria que dividir-se. Era certo.
Já havia feito isso antes.
Partir-se em tantas.
Estava dada a largada.