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MALVADO CANTO

Não é malvado o canto de Lincoln.

Ao contrário, fala de amor. Quase sempre. Ou sempre.

Fala de amor de um jeito necessário. Atual. Sem a pretensão de banalizar o sentimento, a busca por ele, os percalços comumente enfrentados mesmo quando há encontro.

Não é malvado o cantar de Lincoln.

Ao contrário, sua voz é mansa e afinada. Acolhe e abraça.

Nossos ouvidos procuram por ela ao final de cada faixa. Não tem nada que sobre ou falte. É como tê-lo conversando. De seu jeito incisivo, leve, cheio de sabedoria, malícia, humor.

Cantando, é como se o víssemos rindo ao nosso lado.

Um dia o redescobri. Como eu não havia pensado nisso antes? Em buscá-lo nas redes sociais? Fazia tanto tempo desde o nosso último contato que julguei nossa distância intransponível.

Mas eu estava a um clique dele. Dessa pessoa de quem eu sempre fora absolutamente fã. De quem fui quase dependente por um bom tempo.

Em tudo o que eu queria fazer achava que deveria ter o seu dedo, a sua arte.

Gosto de nomear como ‘artista’ as pessoas completamente sem amarras, sem muros cerceando a criatividade.

Pessoas livres – talhadas para fazer qualquer coisa, de pintar as próprias unhas a pintar paredes.

E Lincoln é o mais livre dos seres que conheço.

Lincoln tinha o traço mais instigante que conheci. Tive um texto publicado e assinei, como jornalista responsável, uma revista que editou pelo Fundo de Cultura do DF, há muitos anos.

Na época, podia encontrá-lo também como garçom do café descolado.

Ou sócio de uma loja em que era também estilista e costureiro.

Encontrava-o sobretudo buscando um canal apropriado para ser quem era e ser mais e maior. Ser “Euzinha” sendo ele.

Na última lembrança estava indo para uma temporada em Nova Iorque. Aquela cidade tinha o tamanho dele, podendo até ser menor. Mas ele cabia nela e era para lá que estava indo, levado por sua inquietude, enxergando futuro pelas brechas dos seus olhos apertados. Ávido por realizações. Faminto de vida.

Reencontro Lincoln. Mora em São Paulo. E me surpreende revelando-se de um jeito que eu ainda não tinha visto e sequer imaginado que existia. E fico ainda mais impressionada com suas possibilidades e talentos.

Cantando.

Compondo.

Gravando clipes.

Falando de um lugar necessário – o de um homem – que não aceita e nem entende superficialidades. “Veja meu lindo, também sou um homem”.

Fazendo questionamentos necessários, rechaçando as cascas e máscaras que embotam o ser humano. “Namora sozinho. O amor projetando”.

Buscando compromisso individual para ser feliz, para haver entrega. “A coisa mais linda. Um rei reclinado, sentindo tranquilo um amor delicado”.

Expondo os bastidores dos sentimentos que ocultamos. “Você chegou e era só uma foda. Só mais um gozo. Abri a porta e vi que a minha alma tinha se exposto”.

No disco, Lincoln traz um corajoso olhar para dentro – de idas e vindas. De dualidades. De idiossincrasias. De contradições.

Abre espaço para ousadas verdades.

Desvela a nudez para além da carne.

Solicita.

“Diria baixinho que tenho defeito, mas que na verdade só quero carinho”.


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