Foi um sábado de vivências e experiências fortes, ainda que sutis.
Todas elas convergindo para um caminho associAtivista e colaborativo, com prioridade para o diálogo, a partilha e a busca de novas formas de se relacionar, inclusive economicamente.
Começou na escola de minha filha, onde tivemos a vivência para a confecção de prendas para as brincadeiras da festa junina.
A nossa turma escolheu fazer as “Abayomis”, bonecas de tecido, que não usam costura mas nós e que, segundo conta a história, eram feitas por mulheres negras, mães escravas em seu trajeto nos navios, na Diáspora Africana, para distrair as crianças.
A matéria prima era o pano das roupas que vestiam, muitas vezes a única coisa que carregavam na travessia. A tesoura eram as unhas delas. O rosto não era definido para que pudesse representar quaisquer das etnias presentes na “viagem”. Hoje são amuletos e símbolo de resistência.
Saí de lá para a programação da Semana Mundial do Brincar na árvore de crochê (que existe). Ali também pessoas especiais prontas para oferecer, desde uma palavra até um pedaço de torta, feita no esteio da alimentação crudívora e servida em folha de bananeira.
Nesse dia um samba tropeçou em nós como uma pedra no meio do caminho. A pedra, digo, o samba, me deu o sopro de vida pulsando e pulsante que faltava. É um dos meus programas preferidos. E perpassou minha alma pavimentando-a com alegria.
De lá, seguimos para a grande surpresa: a inauguração do projeto Ateliê Mulheres que Inspiram o Mundo, um projeto do Coletivo Bambuo e da organização Mais Pontes Menos Muros.
Só inspiração. Desde a grafitagem da banca da SQN 313, revitalizada e ocupada pela iniciativa, até sua decoração e os produtos comercializados lá dentro.
O espaço é coletivo, explicou Marina, uma das integrantes. Pensado para acolher ideias, propostas, oficinas, trocas, doações. O Coletivo estaria lá como facilitador, organizando agendas e atividades.
A ideia é que o Ateliê congregue a produção de imigrantes, já que são objetivos do trabalho a celebração intercultural e o apoio a eles.
Então, naquele dia havia as bolsas colombianas, o sanduíche paquistanês, os doces sírios.
E a forma tão justa e inusitada de precificação, com uma plaquinha indicando o custo e o tempo de produção e o livre arbítrio para o famoso “quanto custa”.
Naquele dia é claro que havia também os imigrantes, mulheres, crianças, com quem conversamos, brincamos, ajustamos idiomas.
Tinha o Alan, um voluntário que me falou sobre necessidade de desconstrução do ‘normal’ e da ‘normalidade’, que fala fácil e fartamente e abraça, porque o melhor de tudo é o abraço.
E havia Rita Venturim, também voluntária, e do meu coração, que nos convidou para um café em sua casa. Mas isso é assunto para outro texto.