Se tudo tem um lado bom, o lado bom dessa história está ali, na cozinha.
São amigos e pessoas da família que vieram visitar Morena após sua internação por uma laringite.
Esse povo todo está ali na cozinha, fazendo barulho na casa silenciosa, povoando a casa de poucos moradores, fazendo o ar se encher de cheiros de comida no fogo e de amizade, cortando o silêncio com a conversa boa e farta.
Se tudo tem um lado bom, o lado bom dessa história é fazer com que aflorem o companheirismo e a solidariedade. A amizade.
Não só a que agora está simbolizada pelas pessoas que estão na cozinha.
Mas por todas as outras demonstrações – via telefone, whatsapp, facebook.
E isso tudo se transforma em um abraço caloroso ainda que por meio de braços virtuais.
Desde o momento em que vi minha filha passar mal prestei atenção em todas as ‘coincidências’ e ‘sortes’ e ‘boas vontades’ que tornaram tudo mais fácil, que permitiram que fosse rapidamente atendida, diagnosticada e pudesse receber os cuidados que restabeleceram sua saúde com tanta prontidão.
Os anjos, santos e orixás estavam atentos e atuantes. Trabalharam com afinco e muito bem. Sinto-me grata a todos eles.
A presença do pai dela, Fábio, também foi de fundamental importância nesse momento de pleno desespero. Em que estávamos diante do vazio de um diagnóstico que podia ser qualquer um e qualquer que fosse estava incapacitando-a a respirar, portanto, de viver.
Cortamos a via L2 para chegar algumas quadras adiante como se aquele fosse o percurso mais longo de nossas vidas. Os cinco minutos devem ter durado horas. Todos os carros com que cruzamos eram excessivos, todos os sinais fechados nos bloqueavam a saída da escuridão para a luz.
Dizem que as comparações são boas professoras. Que as mudanças de perspectivas também. Brasília é uma cidade que favorece que nos fechemos na cegueira de um mundo restrito – complicado e perfeitinho e, sem esforço, acharemos que a vida toda é assim mesmo.
Mas basta uma oportunidade forjada ou buscada e somos capazes de ver e de sentir mais. Um hospital sempre favorece esse alargamento de visão. Um hospital público ainda mais. Uma pediatria ainda mais e mais.
Há muitas histórias difíceis sendo escritas em cima daquelas camas. Protagonizadas por miudezas com braços furados por agulhas, por narizes invadidos por cânulas. Há a solidão de mulheres/mães às vezes tão jovens que podiam ser elas as pacientes da pediatria. Há choros e lágrimas a maior parte do tempo.
Há uma infinidade de profissionais com a missão de abrandar e curar. E que consigam sempre. Como foi com nossa filha.
Há qualidade e padrões de qualidade sendo postos em ação. E para quem já esteve do outro lado, em hospitais privados, pouco separava ou diferenciava as duas realidades. Talvez o lado em que estávamos agora até levasse vantagem em muitos aspectos. Não duvido.
Saímos de lá surpreendidos e agradecidos. Amainar as ideias pré-concebidas também é um lado bom.
O outro está ali, na cozinha, dizendo: Está na mesa
Servidos?