Ela se diz encantada.
Mais do que isso, ela diz que se permite agora viver o encantamento.
Foi como se a cortina se abrisse, a névoa se dissipasse, as nuvens clareassem.
Foi como se um céu azul se abrisse de repente.
E ele estava não somente acima da sua cabeça, mas dentro dela – inteira.
Inteiramente feita de céu.
Seu corpo era luz.
Sua cor era azul.
Já não entendia como vivera de outra forma. A vida toda. Mas agora a vida toda era um tempo distante. Uma vida toda que não era mais dela. Porque não tinha dúvidas. Tinha entrega. Não tinha poréns. Tinha assertividade.
Não lhe faltavam palavras. Sabia o que queria. Sabia o que devia ser dito. E dizia.
Ela se sentia livre. E forte.
Sabia finalmente o que queria.
E porque descobrira antes o que não queria.
Passou anos se dedicando a ser o que esperavam que fosse. Indo ao encontro de suas próprias expectativas. Falsas.
Respeitava suas lágrimas. Mas ainda mais suas risadas.
Era tempo de sorrir.
Era tempo de dizer sim. De aceitar o sim. De viver o sim. De esquecer o não. Deslembrar.
Porque eram novos tempos.
E eles a surpreendiam.
Agora sabia tocar, agora sabia falar, agora sabia respeitar o que sentia e verbalizar e transmitir o que sentia.
Agora queria mesmo que o que sentia fosse recíproco e encontrasse eco, colo e amparo.
Tinha lá pra ela que agora sim. Vivia enfim, um grande amor.
E não era mentira. Não permitiria que fosse.
Era tudo muito simples.
Palavras. Gestos. Delicadezas. Presentes. Juras.
E um encontro inédito.
E conversas que jamais teve.
E vontades que se mostravam incontidas.
Havia um futuro ali.
Era bonito. Era promissor. Era cheio de novidades. E estreias. E coisas que nunca fizera.
Mas fariam.
Havia um futuro ali.
E ele seria vivido junto.
E tudo o que parecesse desencontro seria extirpado.
Queria estar junto.
E se estivesse separada queria dizer onde estava.
Queria enviar uma foto.
Contar os detalhes.
Fazer um convite.
Andar de mãos dadas.
Dar beijo sem língua.
Olhar nos olhos.
Sorrir a toa.
Queria um vinho.
Queria abraço.
Queria dormir de conchinha.
Queria nem dormir.
Mesmo assim sonhar.
Seu corpo era luz.
Sua cor era azul.
O seu dia e sua hora eram agora.