Existe uma coisa chamada comprometimento.
Pode vir de nós ou ser cobrado por algo ou alguém externo a nós que, motivado por algo que vem de nós, espera que tenhamos um comportamento que se imagina obrigatório diante de alguma situação.
Isso para dizer que me pediram para escrever sobre a Greve Geral desta sexta-feira, 28 de abril.
Diante da solicitação ou sugestão respondi (ainda que sem grandes elaborações): "Não escrevo sobre grandes questões. Só sobre as pequenas".
A pessoa insistiu: "Uai, mas você tem que fazer um texto sobre isso para o blog".
Eu reiterei minha resposta, mas o questionamento seguiu me mordiscando como um peixe busca a isca que no fim determinará o seu fim.
Não que acreditasse que escrever sobre isso me mataria pela boca, como se costuma dizer.
Mas não me considero uma articulista, intelectual ou grande pensadora a ponto de formular juízos que pudessem balizar a opinião alheia.
Há pessoas que já fazem isso – e muito bem – e para elas deixo essa missão. Eu mesma as procuro quando busco um ponto ou contraponto em que possa ancorar, ou deixar à deriva, minhas tentativas de entendimento ou de aprofundamento sobre as tais grandes questões.
As pequenas questões – gosto delas e nem as considero assim pequenas a ponto de prescindir de que sejam alvo ou inspiração do que escrevo.
Um famoso texto de Antônio Cândido que tenta decifrar os mistérios das crônicas diz que “... a sua perspectiva não é a dos que escrevem do alto da montanha, mas do simples rés-do-chão”.
Aqui do rés-do-chão, vejo policiais e cachorros na Esplanada dos Ministérios. Vejo notícias de que ganharam equipamentos novos voltados especialmente para o dia de amanhã.
O clima é de “quem viver verá”. É uma incógnita como os cidadãos que estiverem parados, mas agindo nas ruas, exercendo um direito que lhes pertence, serão “acolhidos”.
Vejo que os prédios se preparam ou se resguardam diante do que está por vir. Vejo que há piquetes acontecendo e que muitas categorias estão realizando assembleias e buscando deliberações na frente dos prédios mais relacionados a suas demandas.
Escuto em todas as rodas de conversas, o assunto circular. Há quem concorde, quem discorde, quem vai parar por ideologia, quem vai parar por não ter como se deslocar, compulsoriamente. Quem esteja disposto a ter o ponto cortado por um dia, em detrimento de direitos cortados pela vida toda e, quem esteja desesperado diante de uma diminuição de um dia de trabalho, caso não consiga driblar o que for preciso para que consiga colocar um dedinho na máquina de registro.
Há quem se pergunte como chegar, como caminhar, como sair. Há quem se pergunte com quem vão ficar os filhos, já que a escola parou, os sistemas de transporte público também. Os táxis.
Quem não vai parar deve agradecer aos que vão, dizem postagens nas Redes Sociais. A luta é coletiva e envolve a todos. Todos juntos somos fortes.
As preocupações que parecem pontuais também fazem sentido e precisam ser respeitadas. Para os mais fracos a corda sempre esteve quebrada.