Hoje o lápis caiu da mão.
Não havia força para que eu o segurasse.
Estava no meio de uma pauta. Estava no meio de um evento.
Chorei.
Acho que precisava mesmo chorar.
E achei o gatilho.
A gota d’água.
As lágrimas aliviaram as dores outras todas que achavam aquele canal para transbordar.
Mas na mão o problema continuava.
A sensação foi estranha.
Em segundos eu me vi sem chão. Entrei em um vácuo. Sobrava pouco de mim.
Meus dedos não se moviam, não respondiam aos comandos, perdiam o sentido.
Minha força de trabalho, minhas habilidades, minha formação, giram em torno do escrever.
Giram em torno de uma caneta e/ou de um teclado. Giram em torno das minhas anotações.
O que seria de mim agora?
Sequei as lágrimas discretamente – e esperei.
Quando arrisquei de novo rabiscar algo, consegui.
Parecia um sonho ruim.
Um devaneio.
Uma alucinação.
Acontecera afinal?
Uma pessoa perguntou se eu estava com sono.
Não. É que eu chorei.
E pensei que podia ter calado sobre isso.
Mamãe sempre criticou minhas lágrimas. Pelo menos as fora de hora.
“Não puxou a mim”, retrucava.
Passou. Deixei para lá a demonstração de fragilidade. Perdoei-me. Ou não. Sei lá. Acho que ainda vou ficar pensando sobre isso. Mesmo fazendo de conta que não.
Mas esses sustos/tristezas quando vêm, ficam estampados na cara.
Indiscretos. Fanfarrões. Exibidos. Explícitos.
Não tenho como esconder isso. Nem motivos.
Sou o que tens diante dos olhos.
Voltei ao meu ambiente de trabalho.
Tinha minha matéria.
Minha tarefa do dia estava salva e resguardada.
Contei o que aconteceu a um amigo.
Ele não deu vasão a sentimentalismos. Prático que só, perguntou se eu não escrevia também com a mão esquerda.
Achava que eu devia imediatamente começar a aprender, a treinar.
Não tinha cabimento a gente ficar dependendo apenas de um lado do corpo.
“O cérebro da gente corrige as coisas. É só tentar”.
Aí, era a filosofia barata que me faltava para estender a frase a outros lados da vida toda, da alma.
Corrige, é? Hummm.
Então é muito teimoso. Burro. Torto. Lerdo. Lento. Atrasado.
Por via das dúvidas, peguei a caneta e comecei minha aula de canhota.
Gustave Courbet- Le Désespéré