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A ARTE DO ENCONTRO

A gente está sempre adiando coisas. Compromissos. Encontros. Confrontos.

E mesmo sabendo que algumas delas não vão acontecer, gostamos de pensar que sim.

Uma profusão de agendamentos vai se espalhando pelo caminho.

Vez em quando, face a uma perda abrupta ou qualquer outro gatilho do gênero, ficamos ressentidos pelas palavras apenas ditas ou pelas palavras ditas sem que firmem um pacto, como o aperto de mão ou o fio do bigode.

Sentimos de chofre que a vida requer agilidade. Não volta. Nos assalta – nos leva chances e oportunidades.

Que podem ter sido a última.

Descobrir isso tardiamente nos deixa impactados, culpados, com remorso, com ressentimento.

Mesmo com as pessoas mais próximas, os amigos mais íntimos, os parceiros amorosos, vamos deixando vácuos do que poderia ter sido. Muitas vezes nossa única falta é a inabilidade em entender essa urgência e viver consoante ela.

Nossa tentativa de acompanhar os passos rápidos do tempo nos faz tropeçar, cair e ficar estatelados no caos, sem poder de reação, de ação.

Dia desses eu marquei um encontro, que ocorreu de fato.

E isso me fez refletir sobre o que colocamos como uma pretensão e o que fazemos para realizá-la.

Meu interlocutor teve o mérito do êxito da nossa empreitada.

Ele, um amigo, companheiro de trabalho, que saiu do Brasil e voltou há poucos meses.

Nos falamos virtualmente. Ele contava ter perdido o contato com muita gente e estar em fase de adaptação à cidade.

Foi então que eu sapequei: Vamos marcar um café qualquer hora?

A sua resposta foi positiva, mas eu a coloquei na conta do que ficaria como firula, do que não precisa acontecer para parecer que existiu.

No entanto, meu amigo tinha outra forma de lidar com isso.

Voltamos a trocar mensagens para encontrar dia e horário ideais para ambos.

Com o intento tomando forma, comecei a ficar nervosa.

O que eu vou conversar?

O que eu tenho para contar?

Como vai ser isso – rever essa pessoa mais de uma década depois da última vez.

Tentei buscar na memória como nos relacionávamos antes. O que podia ser retomado. Como seria a retomada.

Devo ter suado nas mãos. Meu coração deve ter ficado descompassado.

O fato é que ele bateu na minha porta no horário marcado. E tudo foi mais simples do que pensei, como

era de se esperar.

Café e pão de queijo saído do forno. Cardápio acertado. Ele tinha saudade da iguaria mineira, brasileira.

O famoso bate-papo fluiu por horas. Atualizamos as informações um do outro. O futuro havia chegado.

Naquele tempo, tínhamos vinte e poucos anos e não sabíamos o que viria. Agora éramos quarentões em colheita.

Não sei se viveu os mesmos dilemas que eu até aquele domingo, às 18h. Acredito que não. Pois naquele dia mesmo me ensinou muito sobre pragmatismo, isenção e objetividade no trato com os problemas do dia a dia.

Encontrá-lo foi uma delícia.

E reforçou a mensagem.

A vida é a arte do encontro.

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