Fala para mim, fêmea.
Ela já tinha avisado.
Não falava.
Aprisionado, seu pensamento ainda não se rebelara. Não conhecia a liberdade. Não conhecia a liberdade da palavra dita, falada.
Então, escreva.
Então fala o que você escreveria.
Ela já tinha feito isso.
Anos antes.
O resultado estava flutuando na Internet. Talvez sem nunca ter chegado ao destinatário.
Tentaria achar para não ter retrabalho.
Falar dele – de novo – é possível que não acrescesse novidades ao texto anterior.
Aprendera a lidar com ele.
A não se aproximar.
Mesmo se quisesse.
A não chamá-lo.
Mesmo se sentisse vontade.
A não acreditar.
Mesmo que parecesse verdadeiro.
A guardar distância regulamentar.
Imposta por regras próprias.
Ela tinha um certo orgulho por ter manualizado relações/interações.
Como a deles.
Saía menos ferida.
Mas tinha dúvidas.
Se saía menos ferida íntegra ou vítima de hemorragia interna. Ou pneumonia silenciosa.
Algo insidioso e sem sintomas aparentes, que ia corroendo por dentro, implodindo antes de arrebentar em explosão possivelmente fatal.
Umas vezes a estratégia a acalmava. Noutras, enervava.
Então, voltara ao começo. Aos jogos, a tempos turvos que encobriam a clareza dos sentimentos e quereres
Então, vivera até ali para voltar no tempo.
Então, nessa estrada não tem evolução.
Caminho só de ida, mesmo que em serras cheias de curvas tortuosas.
Ela não vai escrever para ele.
Nem mesmo em pensamento.
Não se convence sobre estar errada ao não fazê-lo.
Sim, ela sabe quem é.
Quem ele é.
Tudo bem que não saiba tanto assim. Porque tudo nunca se sabe mesmo.
Talvez o suficiente.
Para saber o quanto a agrada. E o contrário.
E é supostamente pela sinceridade, pela sagacidade, pela fartura de palavras, de sorrisos e gentilezas que se mostra tão sem segredos.
De tão transparente, um livro fechado.
Que se abre por acidente quando cai da estante. Mas logo é resposto no lugar que ocupava antes da queda.
Ali, se acomoda no espaço possível, mesmo que apertado. Folhas dobradas e amassadas.
Não totalmente à vontade.
Esmagado.
E se deixa esquecer.