Coisa boa que é esperar um filho.
A palavra foi perdendo o sentido. Mas é realmente uma espera. Longa. De meses a fio. Com características variadas – sobressaltos ou serenidade.
Era como sentar na cadeira de balanço e tricotar. Sem compromisso ou prazo. Apenas ver abaixo das agulhas uma nova forma surgindo e crescendo – ainda sem saber se seria cachecol ou manta. Casaco ou blusa.
Na espera dela havia esperança. Vida nova é capaz disso. De fazer esquecer agruras. Fazer lembrar que dias melhores virão.
Era preciso que viessem. Com o marido desempregado e um rebento já no mundo, as preocupações com o futuro eram inevitáveis. Para além da alegria de ver a barriga crescendo, pensava como seria alimentar mais uma.
Para não ser dominada pelo pessimismo decidiu. Faria um Chá de Bebê. Usaria dos seus dons como artesã, cataria as últimas economias, parcas mesmo, e faria ela mesma tudo o que fosse necessário.
Vira as dicas na Internet. Era última moda. Tendência. E era coisa simples. Não demandava muito material. Ia aproveitar o que já tinha.
Valia a pena o sacrifício que, afinal, nem era.
Era prazer. Era alegria.
Era uma recepção antecipada. Um carinho que o rebento certamente receberia, mesmo guardadinho na barriga.
Depois do planejamento, a execução. Convites. Mesa. Decoração. Comidinhas.
Chegado o dia, tudo pronto. Esperar. Sentar e esperar – a barriga já pesava sobre os pés inchados. Esperar sentada.
O relógio seguiu sua viagem. O tempo foi passando.
Ninguém chegando.
Ninguém chegou.
Ela não sabia quando devia entender que o intento fracassara – o momento certo de jogar a toalha.
Assumir que não havia convidados.
Mas a resposta ficou óbvia.
Olhou para o marido. Deu de ombros. Bem que ele não concordara com a produção de um evento que zeraria uma conta bancária já tão desfalcada. Para que?
Ela sabia. Queria festejar, reunir amigos e a família. Queria sorrir. Queria que o filhote ganhasse presentes que assegurassem seu bem-estar por uns bons meses. Queria ver as pessoas provando seus acepipes e os elogiando.
Recapitulou todos os passos. Onde estava o erro? Onde se escondia a falta? Onde se embutia a lacuna que a fez organizar uma festa sem convidados? Havia feito tudo certinho.
Maldisse a vida. As pessoas – sem coração.
Abriu a janela. Olhou o tempo. Limpo. Ligou o rádio, nenhuma notícia que justificasse a ausência coletiva.
A cidade não tinha sido devastada por uma enxurrada, nenhum acidente de trânsito havia bloqueado as estradas, ninguém estava sendo feito refém num assalto cinematográfico à única pequena agência bancária do lugar.
Safadeza mesmo. Maldade. Podia ser que ela que fosse a ruim da história, como circulou por aí.
Mas podia ter sido mesmo providência divina.
Era o que sempre ouvia. Todo mal traz um bem.
Sabendo do que ocorrera, a vizinhança, os convidados de outrora, os parentes e até desconhecidos, se uniram em solidariedade. Fizeram doações.
A criança podia chegar. Estava sortida. Havia provimentos.
Queria um Chá de Bebê. Levou um Chá de Cadeira.
Quem espera sempre alcança.