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O TELEFONEMA

Quando desligamos tive quase certeza que a mulher que eu conhecera num texto na década de 90 e que não saía da minha cabeça, nem entrava (porque procrastinei por anos um reencontro com sua história), era a mesma de quem você falava.

Durante esse tempo todo apenas a palavra ‘soror’ me remetia a algo que pudesse identificá-la. Mas eu nunca a esqueci.

Arrepiei agora ao confirmar.

Como pode ser rica uma troca. Uma conversa corrida. No banho, chuveiro ligado, celular no viva voz e último volume. Água escapando pelo chão do banheiro. Relógio se adiantando.

Como você soube dela mesmo? Já não lembro muito. Estava em Portugal, no aeroporto? Comprou um livro que tratava do assunto? Viu uma postagem na Internet?

Depois você me confirma.

Porque o que importa agora são nossas divagações, nossas conversas e essa necessidade simultânea que tivemos de revisitar nossas raízes femininas e escavá-las. Em nossa procura e em respeito a quem veio antes.

Tem ficado muito claro a desvantagem que o mundo nos pespegou ao nos trazer para ele com uma vagina entre as pernas.

Isso nos dá belezas e características intrínsecas de fêmeas e deusas.

Mas isso nos condena a um risco contínuo de tudo. De todas as exposições, de todas as imposições. De todos os julgamentos. De todos os rebaixamentos.

Estamos todas com a pele pendurada no varal do mercado.

Buscando, debalde, seguir, enquanto ameaças visíveis e veladas querem nos paralisar.

Temos no DNA a exclusão histórica e ancestral que tornou obscura e muitas vezes aparentemente inexistente a presença da mulher como um ser pensante, como sujeito de suas buscas e necessidades.

Como alguém com alma, inteligência, desejo e sentimentos próprios. Como alguém que não existisse para servir apenas. Para ser vilipendiada.

Ah, minha irmã, Sóror Juana Inés de la Cruz, a mulher de quem você falava e que suspeitei, pelo seu relato, ser a mesma que estudei há tantos anos, conseguiu seus feitos.

Ilustra notas mexicanas. Passa de mão em mão como talvez desejasse ter passado. Ao contrário, declarou-se, em poesia, alguém de corpo neutro, abstrato.

Aquela considerada a primeira feminista das Américas, segundo sua biografia “amou a liberdade e o amor, sem nunca ter gozado realmente nenhum desses sentimentos em sua plenitude”.

Sentiremos pena dela? Não creio. Talvez tenha chegado muito mais perto da liberdade e do amor, assim. Deles afastada.

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