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DESCOBERTAS

Parecia inacreditável.

Na idade adulta, na maturidade, na verdade, é que ela descobria.

Descobria os homens.

Não por um contato primeiro tardio. Ou por ser lésbica e ter optado por novas experiências.

A descoberta era de que até ali parecia ter vivido alheia a algumas facetas deles, embora tivesse tido, desde a adolescência, muitas paixões, amores, encontros longos ou furtivos, correspondidos ou na sarjeta.

Até juramentados em cartório.

Gostava de contar os capítulos colecionados porque julgava ter aprendido muito com eles e ter saído incólume – sem traumas, sem sequelas, sem decisões de, definitivamente, parar de tentar.

Nunca se investiu de lemas do tipo: o amor não é para mim ou tenho o dedo podre.

Nunca fez promessas para santos de causas impossíveis e tampouco simpatias para Santo Antônio, na época dos festejos juninos.

Seguiu apenas.

Aprendeu a lidar com a felicidade, a dor, a ausência, a presença, o sumiço, a intermitência, a impermanência.

Até com as juras. Até com promessas de fidelidade, de eternidade. Mas um verso a alertou a tempo: o pra sempre, sempre acaba.

Ficou com Vinícius. “Que seja eterno enquanto dure”.

Concordou com Julio Numhauser Navarro: Todo cambia.

Será que tinha chegado a um limite do autoconhecimento e da sabedoria?

Será que era cínica?

Será que era puta?

Sentia-se apenas livre. Bagagem leve pela vida.

Mas como é que só agora a estrutura desabara? A névoa desaparecera, o mundo do faz de conta pareceu abrir-se em terremoto não anunciado e nem antecipado pelos especialistas?

Coisa assim. Rápida. E sobretudo rasteira.

O que mudara ou quem mudara?

As retinas? Ela? Eles?

Cada conversa em grupo corroborava com as novas descobertas.

Decepções.

Constatava a falta de sofisticação ou delicadeza no trato, mesmo que não o trato físico, mas o das subjetividades.

Sobre o trato físico, melhor nem falar. Eles também pioraram.

E a posse, o ciúme, o controle e comando.

E o assassinato – credo em cruz. Estava diariamente nos jornais. “Não aceitou o fim do relacionamento”, era a justificativa.

E a cobrança por um passado do qual não participaram?

E a desfaçatez de contar ao macho do lado o que aconteceu na cama?

Aliás, e sobre o péssimo desempenho na cama? A falta de autocrítica? Isso eles guardam em segredo, não

contam. Sequer percebem.

Tanto pior.

E seguem com mãos e dedos demais, carinhos, beijos e outros quetais de menos. Seguem sem conhecer de lubrificação ou preliminares. O beabá. O basiquinho mesmo.

Eles, os homens, se transformaram todos de uma vez?

Impossível.

São assim.

É que quando não enxergamos de pronto, o passar do tempo se encarrega de mostrar.

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