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EU QUERO SER ESSE HOMEM

Fechei o livro e afirmei: Desisto de ser esse homem.

Um amigo me repreendeu: Por que? Vai ver que ele um dia também se desafiou a superar Machado de Assis.

Concordei.

Eu que sequer tinha feito planos para sê-lo, já desistia assim.

Inibida diante de palavras perpassadas por humor, ironia, sagacidade. Sabedoria, muita sabedoria. Além do poder de observação e de síntese necessários ao seu ofício.

Tudo bem. Então, eu quero ser esse homem.

Não sei se falei alto ou só pensei. Mas o fato é que aquiesci.

Ainda estava cheia de dúvidas. Presunção querer superá-lo. Talvez perseguir a qualidade, a inteligência, a produção de quem, segundo sua biografia, escreveu mais de 15 mil crônicas.

Mais plausível continuar lendo a obra de quem se dedicou apenas ao gênero e é considerado, talvez por isso, o maior cronista do Brasil.

De repente, um tapa na minha cara. Mas como eu só parei para busca-lo há tão pouco tempo? Para escrever, ler. Para escrever crônica, ler o escritor de Cachoeiro do Itapemirim.

Aliás, foi por causa dessa informação que ganhei, em um programa de auditório da TV Câmara, o livro que fechei naquele momento. Procurei lembrar por qual motivo eu estava com aquele dado na ponta da língua.

Na plateia tanta gente letrada, intelectuais, poetas, músicos, jornalistas. E apenas eu levantei o dedo. E respondi sem titubear. Espírito Santo.

Fiquei toda feliz. Podia parecer muito esperta com aquela assertividade. Mas caso houvesse qualquer réplica, demonstraria o quanto era superficial minha relação com aquele advogado que nunca exerceu a profissão.

Arrisco dizer que, à época, encantada com O Conde e o Passarinho, busquei o Google para me dar um auxílio e, guardando uma única informação, alvo da única pergunta daquele programa. O que, consequentemente, me colocou nas mãos, como prêmio, uma 15º edição amarelada de Ai de ti, Copacabana, de 1996, pela Record.

Foi desbravando suas quase 200 páginas que, sob forte impacto, tinha tomado a decisão de desistir de ser Rubem Braga.

Noutros tempos eu desistiria de tudo. Até de enfrentar suas escrituras. Mas agora vou em busca delas, que me pegaram em dias de mais coragem.

Agora ninguém me segura.

E pode continuar com essa cara de “quero mesmo ver”.

Mas se não amolecer o olhar inquisidor, eu deito esta contracapa sobre uma bancada maciça e o faço invisível.

Pode me fitar por baixo dessas sobrancelhas grossas e grisalhas. Cenho franzido. Cabelo ainda farto. Testa enrugada.

Eu já tomei como verdadeiro o desafio.

Eu quero ser você, Rubem Braga.

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