Sou consumidora de café.
Não sou especialista, barista ou degustadora profissional.
Apenas bebo. Ou o preparo. Sem recursos modernos. No coador descartável e um pó razoável, que meu dinheiro dê para bancar.
Ainda não cheguei na fase de ter enxaqueca por abstinência. Mas que sinto falta, sinto.
O dia nem clareou e já estou na beira do fogão, esperando o apito da chaleira. Nessas horas, nem preciso do líquido. Mas do cheiro.
É como se povoasse meu espaço. Como se ficasse cheio de gente como na infância da casa dos meus pais.
É como se eu quisesse dizer aos vizinhos que a minha rotina começou, que o café da manhã já vai sair, que todo mundo tem lugar à mesa.
Vez em quando invisto em conhecer novos Cafés, em Brasília. Ao dizer isso, lembro que quem me mostrou que lugares assim existiam foi meu irmão Renan, quando morava em Ribeirão Preto e fui visita-lo. Talvez um pouco antes.
Desafio é pedir café para viagem. Parece que pouca gente pensou nisso. As embalagens costumam ser sofríveis, oferecer risco e ter ares de improviso.
Bom mesmo deve ser nos Estados Unidos. Apesar do Brasil ser considerado o maior produtor do mundo, é na terra do Tio Sam (a maior importadora do nosso grão) que o café se locomove facilmente junto às mãos e meios de transportes de seus donos.
Pelo menos é o que vejo nos filmes. Raramente tem um em que não apareça alguém carregando um copo descartável, muito bem tampado, portando o que suponho ser, um bom café.
Talvez frio já.
Ou vai que eles nem gostem que seja tão quente. Como a cerveja na Alemanha, que vai esquentando sem prejuízo para os nativos.
A primeira vez em que pedi um café aos moldes hollywoodianos, senti uma pontinha de orgulho e a felicidade de uma estreia.
Confesso certo nervosismo – normal em momentos assim.
Não desconfiei, no entanto, que poderia haver dificuldades no manuseio.
A primeira vez em que bebi um café aos moldes hollywoodianos, queimei a língua. Maldisse a vida.
Achei de uma insanidade alguém pedir um café para viagem. Ainda mais insano existir isso. Uma tampa adaptada com um biquinho devia ser restrita ao uso das crianças.
Como podia me recuperar de um baque desses: descobrir em uma tarde pueril de um dia qualquer, que eu não servia para beber um café embalado.
Diminuída, esbravejei. Refeita, pedi uma aula sobre aquele tema. Frustrada, só consegui o intento de bebê-lo, quando amornava.
Nunca mais pedi café para viagem.
Na viagem, bebo café. Prefiro. Aprendizado.
Em terra firme. Lugar para apoiar a xícara.
O direito de escolher se queimo a língua ou se espero um pouco.
O prazer de ver a fumaça se esvair.
Só isso está bom.
Deixo a xícara cheia no Café. E me levanto satisfeita.