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A COLECIONADORA

Desde que se entende por gente, escreve.

Não que precise de lápis e papel para isso.

Escreve antes na cabeça. Pensa em forma de texto.

Nem sempre ele vai para o papel.

Não que tenha decidido assim.

Mas é que as vezes não dá tempo de fazer a transposição.

Às vezes a ideia vem de forma tão lancinante, em forma de insight, que como se fosse um sonho na madrugada, se vai da memória antes que vire algo mais perene.

Às vezes basta que tenha escrito mentalmente. Não precisa de lápis, papel, nem nada.

Basta ter tido aquela inspiração. Basta ter digitado na imaginação uma história bonita – que tenha se passado com ela ou com alguém, conhecido ou desconhecido.

É, antes de tudo, uma observadora. Uma ouvidora.

Olhos e ouvidos atentos. O mundo é sua inspiração. As paisagens. As estações do ano. As viagens. As pessoas. As conversas que escuta. Os segredos que lhes são confidenciados.

A vida. A vida como matéria-prima.

Mas nem sempre é assim.

Por vezes, é imprescindível usar lápis e papel. Ou computador. Sobretudo, lápis e papel.

Precisa desses instrumentos quando quer se conhecer melhor, se entender, quando quer dizer sem falar, quando não quer se envolver.

Passa tudo para o papel. E rasga. Passa tudo para o papel. E guarda.

Foi assim que ganhou, além do hábito de escrever, o de comprar lindas cadernetas e descolados cadernos, que pudessem suportar suas palavras.

Dependendo de onde esteja, um pedaço de papel sujo, um guardanapo, as costas de um ingresso já usado.

Com o tempo, percebeu que tinha muitos guardados.

Tudo isso. Caderneta. Caderno. Pedaço de papel sujo. Guardanapo. Costas de ingresso.

Era como um tesouro.

Desenterrado e palpável.

Podia remexer ali e ouvir tilintar seu passado. Suas lembranças. Suas histórias. Um dia bom. Outro nem tanto. Sorrisos. Gozos. Embriaguez. Amor. Ódio. Alegrias.

Mas também lágrimas.

Molhado por elas o tesouro começava a enferrujar. Ouro de tolo. Alquimia às avessas.

Remexê-lo passou a incomodá-la. Era tão querido e ao mesmo tempo tão pesado para se carregar.

Ali, havia mais do que podia suportar. Suportou como sentimento só porque colocou tudo no papel. Mas não suportava mais o papel.

Cultuado em caixas, podia até atrair mais do mesmo.

Tomou a decisão - dura e necessária.

Jogou fora aquele acervo.

As alegrias, melhor levá-las na alma.

Não queria colecionar tristeza.

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