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ALÉM DO QUE OS OLHOS PODEM VER

Depois de algum tempo da minha visita, veio o anúncio: preciso mostrar uma coisa. Chegou ontem pelos Correios. Colocou nas minhas mãos um envelope pardo, tamanho ofício. Não quis abri-lo imediatamente. Preferi passar por uns instantes de suspense.


Olhei para os dois lados. Remetente e destinatário estavam em branco. Nem arrisquei palpites sobre o conteúdo. Não havia volume. Podia até ser que estivesse vazio. E aquilo tudo, uma pegadinha. Ousei dizer que se vinha por via postal, havia de ser coisa boa. Adoro o inusitado que, em tempos de endereços eletrônicos, chega batendo a nossa porta. E não seja boleto de contas a pagar.


Finalmente, tomada por cuidado e delicadeza, levantei a aba do envelope, coloquei a mão no escuro que encerrava tantos mistérios. Tirei de lá duas fotografias. Apurei o olhar para reconhecer, entre luzes e sombras de um preto e branco contundente, a figura de Jards Macalé. Observei os detalhes das imagens e fui tomada por sua beleza. Misto de silêncio e grito. Ocupação e vazio. Macalé. No palco. Gigante na sua arte. Ao mesmo tempo em que ocupava apenas o mínimo do papel.


Quando retomei o fôlego, veio a história, de igual forma encantadora, que estava por trás da chegada daquela missiva que tanto extasiava Sandro. Sempre avesso às Redes Sociais, ele agora faz uso do Instagram para acompanhar temas e pessoas que o interessam. Entre os quais – o maldito bendito. Foi lá, na página do artista que viu aquelas imagens. E quando decidiu: vê-las não era suficiente. Queria tê-las emolduradas. Decorando a parede de tijolos. Aquecendo a parede do coração, com o sol nutrido dos afetos.


Pensou rápido no caminho a percorrer. Entrou em contato com o fotógrafo que assinava as obras. “Esse é o lado bom da Internet”, me disse ao concluir a empreitada com êxito. Do outro lado da tela, Alan Fujito foi surpreendido pelo pedido. É um funcionário público paulistano, que se dedica a fotografar com máquina analógica, shows de artistas que admira e outras cenas da cidade. Posta algumas na sua página. Também as envia aos seus modelos artistas. Já havia vendido imagens outras. Mas as dos ídolos, nunca.


Assentiu com a possibilidade de fazer a remessa – e fazê-la cruzar a distância que separa Brasília da terra da garoa. Mas precisava pedir permissão ao próprio Macalé. Do outro lado da tela, o cantor e compositor assentiu com a possibilidade. Estabeleceu a condição de também receber, lá no Rio de Janeiro, as fotos escolhidas por Sandro.


Por minha vez, vi no percurso, um trabalho em equipe que envolveu Sandro, Fujito, Macalé. Permeado pelos serviços dos Correios. Uma viagem conduzida pela sensibilidade de quem ama. Um longo caminho do Sol, como canta Macalé no último trabalho, Besta Fera.


Eu falei com Fujito. Queria que me contasse porque dedicou seu tempo para atender o pedido de Sandro. Afinal, soube que fez um embrulho cuidadoso e sequer cobrou pelo seu trabalho. O valor depositado em sua conta, imagino que cobria apenas os custos de impressão e envio. Também imagino que, em São Paulo, enviar uma correspondência pode não ser tão simples. Envolve a moeda mais cara, o tempo. E a possibilidade de tantos contratempos.


“Acho importante nessa era digital, termos cópias em papel”, limitou-se a responder. Como se despisse a roupa de super-herói com a qual eu o cobrira. Já eu, acho importante que existam Sandro. Alan. Macalé. E toda a magia que os uniu por meio da admiração. E da capacidade de enxergar. Além do que os olhos podem ver. A alegria também chega pelos Correios.



Foto: Alan Fujito

Alan Fujito



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