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18 DE MAIO VEM AÍ

Costumo ouvir rádio. E música. A junção das duas coisas fez minha filha de quase nove anos, Morena, fazer uma relação que considerei bonita e importante. É coisa que a gente percebe caso aprimore a escuta ao lidar com os filhos. É coisa que a gente percebe se conseguir driblar o efeito da rotina e se colocar presente de corpo e alma quando conversa com eles.


Ouvindo rádio, passou por nós a propaganda do 180, que incentiva a denúncia de casos de violência contra a mulher. “Seu silêncio pode ser fatal”, é o slogan. Ouvindo música, muitas vezes cantei alto a letra de ‘Maria da Vila Matilde’, interpretada de forma inigualável por Elza Soares e que traz os versos: “Cadê meu celular, eu vou ligar pro um oito zero. Vou entregar teu nome, explicar meu endereço. Aqui você não entra mais, eu digo que não te conheço”.


Na contramão dos sons, gosto de evocar a “Fadinha do Silêncio” quando há muito barulho lá em casa. Peço que se fale baixo para não assustá-la. Lembro que para se fazer ouvir não é preciso muita alteração no tom de voz.


E, como alguém que lida com a palavra de forma dual, fazendo dela aliada e algoz, acreditando quando Drummond diz que “lutar com palavras é a luta mais vã”, também gosto de pregar que “A palavra é de prata. O silêncio é de ouro”. Geralmente, faço isso final do dia, volta para casa, desejo de quietude.


Juntando tudo num cadinho, passando pela via W3 Norte, em Brasília, Morena disse: “Mãe, se o silêncio é de ouro, por que a propaganda (e apontou para um ônibus que trazia o cartaz estampado na traseira) diz que o silêncio pode ser fatal?”


Infelizmente, para sua pouca idade, ela já entendeu que, na parte feia do mundo, existem coisas como a violência contra a mulher. A violência, inclusive sexual, contra crianças. Sabe que pessoas negras foram escravizadas. Sabe que o racismo está aí - crime sob o qual identifica situações que passo ou que passamos quando estamos (ou por estarmos) juntas.


Eu escutei. Paralisei por um tempo. Vi a grandeza da pergunta. Da conexão. Minha responsabilidade naquela resposta. E tentei discorrer sobre tipos de silêncios. Um era para aquietar. Servia à contemplação, à solitude, ao entendimento de nós mesmos. Outro, podia ser também chamado omissão, quando alguém silencia só para não ter o trabalho de intervir em algo que pede intervenção, posicionamento, consciência da coisa certa a se fazer. E ela, atenta, completou: "E tem aquele silêncio que a gente pode fazer com coisas que acontecem com a gente, mas que devemos contar a alguém para pedir ajuda". E estava aí uma boa tríade de silêncios - para se fazer e para não se fazer.


O 18 de maio, Dia Nacional de Combate ao Abuso e à Exploração Sexual de Crianças e Adolescentes, vem aí. Que tenhamos a coragem de ensinar aos nossos filhos sobre silêncios que não devem ser mantidos. E de tomar a lição para nós. Mulheres. Mães.




Sem mais nada a declarar, encerro esse texto.


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