Desde bebê, a minha filha teve suas dificuldades recebidas com a seguinte pergunta: - Como podemos resolver? Assim, ela nunca tinha muito tempo para lamentar os ‘fracassos’ típicos da sua idade, como derrubar algo, sofrer uma queda, ter o brinquedo puxado da mão. Nesses casos, a frequência era passada da queixa, para o desafio de resolver seus conflitos.
Ontem, essa estratégia me veio à memória, como uma vitória. Fiquei feliz ao vê-la incorporar o enfoque na solução e não no problema, em um momento em que eu mesma, em situação-limite, já estava com a paciência zerada e muito pouco afeita a fazer Jogos do Contente.
Passamos os últimos dias em meio a caixas e muitas providências a tomar – nos mudamos para outro endereço, onde temos um terço, talvez, do espaço que tínhamos antes. Então, há muita coisa para ser destinada a outros donos e isso leva certo tempo. Idas e vindas. Reparos. Compras. Pagamentos.
No meio desse pequeno caos, a filhota me pede para fazer chocolate em forminhas. O primeiro ímpeto foi negar. Mas pensei que talvez ela já estivesse sendo muito penalizada no processo e que seria um tanto cruel negar o pedido de algo a que sempre foi acostumada e teve liberdade para fazer: cozinhar e fazer seus experimentos gastronômicos.
Disse sim. E quis ajudá-la procurando um modo de fazer. Ela me avisou que não olhasse receitas, pois faria ‘de cabeça’ e sozinha. Aproveitei para me retirar e fingir, apelando para toda a minha paciência, que aquilo não estava acontecendo.
Ela veio avisar que estava pronto. Que eu não reparasse a bagunça. Que ela limparia. E desfiou a receita: ao chocolate em barra derretido na boca do fogão e não em banho-maria, tinha adicionado leite, cacau em pó e lascas de Ovo de Páscoa. Ajudei a colocar a mistura nas forminhas, mas antevi e verbalizei que aquilo não daria o ponto. No congelador, a massa não endurecia e chegou a hora de dizer a verdade: Eu falei. Por causa do leite e tal, não deu o ponto.
- Mas a gente vai desperdiçar?
- Não. Guarda assim e a gente vai comendo.
- Posso tentar outra coisa?
Quase tendo um ataque histérico silencioso, tendo diante de mim uma menina que tinha chocolate até o dedão do pé, deixei que tentasse outra coisa.
Ela me apareceu com um bonito brigadeiro. Coberto com cacau. “Tá parecendo aquele brigadeiro gourmet da Bioon, né, mãe?
Eu fui obrigada a dizer que sim. Era verdade. Elogiei a forma como ela conduziu o problema e por ter dado uma solução para o, à primeira vista, desastre de um chocolate que não endureceu.
Ela tinha tirado um a um o conteúdo das forminhas e colocado leite em pó para dar o ponto. Fez do não chocolate um brigadeiro delicioso, devorado por nós até restar apenas em pó no prato.
Lambendo dedos e beiços, sorri com orgulho.