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PAREM SÃO PAULO. EU QUERO SUBIR

Entre 2009 e 2014 estive muitas vezes em São Paulo. Na condição de esposa de um paulistano pude conhecer a cidade pelos olhos de um nativo. Tive sogro, cunhada e muitos parentes na cidade. Antes disso, vivi a fase solteira pela desvairada, que passava pelos felizes reencontros com irmãos e amigos, por agendas de trabalho e muitas baladas. Desde então, depois de passar um ano na Paraíba (2015) e de voltar de lá para Brasília, separada, com duas malas e uma filha nas mãos, ocupei-me em reconstruir vida, individualidade, rotinas, orçamentos.

Nesse período, voltei duas vezes para trajetos avião/evento que, mesmo curtos, serviram para que eu passasse a limpo as memórias. Reconhecia ruas e lugares sob a ótica do que tinha vivido em família. Experiência intensa. Como o vírus na vacina, inoculou o que já havia passado. Abriu espaço em branco.

A nova vivência acontece agora, quando decidi forjar a possibilidade de ter duas semanas de férias por aqui. O que parecia tão distante aconteceu. E cá estou. Já me aproximo da partida. O dia 12, que antes era na distante semana que vem, passou para sexta-feira.

São Paulo me desafia como nos primeiros tempos. Sinto medos. Excessos. Vontade de esperar o frio passar. Certeza que amanhã tem sol e eu vou pra rua, sem esse vento gelado cortando a garganta. Ao mesmo tempo, me cobro. – Aproveita. E encaixo melhor os pés sob as cobertas.

Da varanda de um décimo terceiro andar, limito-me a acompanhar a vida que enxergo do alto. A criança empurra a mochila; o moço chama o táxi pelo aplicativo; alguém grita #elenao. O cara passeia só de bermuda e mangas curtas. Chove. Mas as formigas-humanas que vejo de cima continuam se abalroando para fazer funcionar o formigueiro.

Noutras vezes, São Paulo me parece afável e possível. Quem teria inventado essa correria? Lenda urbana. É que passo por rua quase sem carros. Vejo outras só com casas. Uma praça no meio do nada. Árvores frondosas e verdes oferecendo sombra. Amigos que se encontram. Abraços e beijos flagrados no meio da rua.

Sinto que a minha necessidade de contemplação e meus passos lentos não se encaixam em São Paulo quando entro no metrô, na Avenida Paulista, às 18h de um início de noite chuvoso. Temo ser derrubada. Pisoteada. Sou abordada por pedintes.

Saio da estação como quem busca emergir de um quase afogamento. Lá fora, sob a garoa, penso que queria muito viver a cidade, a despeito de minhas impossibilidades. Passo algum tempo atordoada. Refazendo a rota mental. E os planos. Apelo em silêncio. Parem São Paulo. Eu quero subir.


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