Eu tenho um interlocutor.
Um leitor.
Alguém que em conversas demoradas – na duração e no intervalo de tempo entre uma e outra – me ajuda a entender o que faço. O que penso. O que escrevo.
E me acolhe com palavras certeiras.
Quando quero desistir.
Quando dou um tempo.
Quando não sei onde quero ir.
Tenho sua companhia.
Costuma estar comigo, diariamente, aos lugares onde vou quando escrevo.
Aos que evito – quando pulo um dia ou outro.
Ao labirinto percorrido quando volto no tempo e preencho os espaços vazios.
Quando revelo minhas dúvidas. Quando faço ecoar meus lamentos. Quando grito meus ais.
Talvez meu interlocutor nem saiba disso.
Ou não pretenda acompanhar-me quando visita o blog.
Mas é atento.
E faz suas revelações (que não se pretendem assim) em sutis colocações.
Acolhidas com mansidão. Colhidas. Como fruta delicada que se tira do pé.
Falo pouco quando conversamos.
Talvez seja a pessoa que mais tenho escutado.
Não sou tão boa para empreender diálogos. Estou atenta às interrupções por mim perpetradas.
Quero um dia não ter referências. Nem aprendizado. Nem colocações. Nem exemplos. Nem conselhos. Nem reações. Nem negativas. Nem justificativas. Para dizer.
Quero um dia não ter ansiedades.
Ser toda ouvidos.
Ser toda silêncio.
Ele diz que está bom assim.
Não corrobora com minhas cobranças. Nem quando acho que tudo está perdido.
Corrobora com o que penso. E costumo esquecer.
O caminho se faz entre o alvo e a seta.
E me alerta para a força da caminhada.
Gosta de papel.
Gosta de registros.
Gosta de memória.
Do palpável.
Do que possa permanecer quando os tempos forem outros.
Quando as mudanças tecnológicas varrerem tudo o que se conhece e jogarem na poeira da nuvem tudo o que foi feito e guardado por aqui. Na Internet como aconhecemos hoje.
Precisamos estar atentos. Preparados. Nos antecipar ao apocalipse virtual.
Um livro.
Que já existe.
Sendo escrito.
Escrevendo-me.
Decifrando-me.
Eu e ele em descobertas. Crescimento.
Consequências que eu não imagino.
Encontros que acontecem a minha revelia.
Dentro dos receptores de minhas mensagens.
É o que me diz.
Em leituras objetivas e subjetivas.
E saímos de mim e passeamos por ele.
A conversa fica bonita.
Sobre música, arte, natureza.
Também sobre família.
Hábitos.
Gostares.
Um conhecer-nos arrastado, considerando que há muitos anos nos esbarramos, como se diz, pela cidade. E sabemos da existência um do outro.
Há poucos meses fomos oficialmente apresentados. E passamos a essa fase das conversas. E das leituras. E das descobertas.
A próxima é um café.
Para o qual nunca temos tempo. Nunca estamos prontos. Nunca coincidimos.
Pensando bem, já tomamos vários.
Nas conversas demoradas – na duração e no intervalo de tempo entre uma e outra – dos nossos encontros virtuais.