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PARECE. MAS NÃO É

Era cedo da manhã.

Saíra para uma pauta fora do lugar em que trabalho.

Missão cumprida, esperar o carro que me levaria de volta.

Sentei-me ao ar livre.

Acompanhava-me o canto dos pássaros. O vento. Um sol tímido.

Lembrei que carregava a revista Vida Simples. Ela segue na minha bolsa como amuleto. Esperando intervalos na rotina. Para ser lida aos poucos. Lentamente.

Para me dar tempo de absorver seus sutis e profundos ensinamentos. Toques.

Trazer inspiração. E insights.

Gosto mesmo de quase nunca terminar a leitura. Sinto um vazio quando passo o olho na última folha. Fico saudosa de suas palavras. E imagens.

E de todas as reviravoltas internas proporcionadas pela imersão.

Quando isso acontece, trato de substituí-la na bolsa.

Procuro um livro fininho que não pese muito. Deixo ele lá. No aguardo por lapsos na agenda em que, como a revista, possa ser manipulado.

Sinto-me nua quando não estou em companhia do papel. Seja como espaço de leitura. Ou de escrita.

Funcionários passavam. E, involuntariamente, eu erguia a cabeça para acompanhá-los com os olhos.

Pensar em que eram. E em suas histórias.

Não que estivesse desconcentrada.

Mas o estalar das folhas secas a sua passagem me causavam esse efeito.

Uns davam bom dia. Outros seguiam absortos. Decerto pensando nos afazeres. Ou infortúnios.

Para meu espanto, fui pega de surpresa por aquele homem.

Não senti que se aproximava até que estivesse tão perto a ponto de me abordar.

- A senhora sabe me informar...

Eu já preparava a resposta. Com a mesma rapidez com que veio a mim.

- Sei não, moço. Não trabalho aqui, diria.

- ...Para que tanto holofote?

Eu olhei para ele. Devia estar com aquela cara de quem não sabe do que se trata. Ouviu o galo cantar e não sabe onde.

Antes de articular palavra, voltei os olhos para onde seus dedos apontavam.

De novo não tive chance de responder.

Antes que eu pudesse perceber que não havia holofotes, ele concluiu.

- Ah não. São janelas de vidro. Né?

Sim. Eram. As vidraças espelhadas. Entreabertas. Recebendo a luz do dia pareciam lâmpadas fortes.

Sendo assim, não causavam estranheza.

Olhei para o prédio do fim até o começo.

Não faria mesmo sentido que, prestando aqueles fins, estivesse assim tão enfeitado.

Seria um gasto de energia.

Seria festa.

E aquilo era lugar de trabalho. Sério.

A revista na minha mão.

Do título ao conteúdo, tratando a simplicidade. Propondo soluções para nossos dilemas. Nossos barulhos internos. Nossa rota alterada pela ansiedade. Pela ausência de escuta interna.

As soluções de igual forma, simples.

O autoconhecer-se.

O se dar a oportunidade de fazer tudo diferente. Com delicadeza. Para sentir os efeitos da quietude.

Não parecia coincidência.

Estando à procura de um refúgio dentro dos meus próprios caminhos, fui impelida a me perguntar:

- Moça, você sabe me dizer para que tanto holofote?


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