-Já pensou?
Foi assim que o homem que esperava sua vez chegar na fila do banco começou a conversa telefônica.
Do outro lado da linha, suponho haver alguém que já havia pensado. Mas não chegara a conclusão alguma.
É que a resposta do lado de cá foi um muxoxo de decepção.
Reinou um silêncio enorme de alguns décimos de segundos.
O homem no banco pareceu estar em cima de uma gangorra. Ou surfando em onda havaiana. Equilibrando-se para achar uma resposta adequada.
Se esforçando para não demonstrar seu desapontamento.
Precisava pensar rápido. Ser estratégico.
Fora pego de surpresa.
Não esperava uma negativa.
Estava preparado para o sim.
Aí, diria que ele não se arrependeria. Ia ver. Agradeceria daqui até as próximas gerações pelo ótimo negócio. Coisa que não se acha fácil. Transação de amigos.
Como seus argumentos não foram suficientes para abrir aquela possibilidade – a única vislumbrada até ali – o chão pareceu se abrir embaixo dos seus pés.
Sentiu mesmo que afundava naquele piso bege de cerâmica.
Se não foi tragado por areia movediça ao menos se curvou sobre o peso do próprio corpo.
Não conseguiu fingir. A voz mudou de timbre denunciando a frustração.
Sentimento não recomendado para mediar um arranjo como aquele.
Ao contrário, altivez era imprescindível.
Voz cordata. Palavras bem colocadas. Pausadas.
Rapidez e ansiedade poderiam ser captadas pela respiração. As frases se atropelariam. Tudo iria por água abaixo.
Precisava agora de assertividade.
Economia de palavras.
O danado era ajustar o uso de um certo tom blasé – para indicar que não estava morrendo por aquilo também.
Nem passar uma indiferença além da conta.
Era como sintonizar um rádio analógico. Com precisão.
Era bom que o outro soubesse que encarava aquilo como as moças mais afoitas falavam sobre os namorados. “É que nem biscoito. Vai um, vem oito”.
Com desdém. E apreço.
Era possível que o jogo todo estivesse sendo feito não pelo homem que esperava sua vez chegar na fila do banco. Mas pelo que estava do outro lado da linha.
Ele pensara, afinal.
Mas julgou precipitado assentir no primeiro telefonema.
Preferiu fazer mistério. Quem sabe conseguiria mais alguma vantagem – fosse o caso a ser pensado um negócio em vias de ser fechado.
Era um tipo de pechincha. Fingia desinteresse. Deixava explícita sua dúvida.
E o outro, louco para finalizar aquela história toda, precisado do dinheiro – promessas a cumprir, dívidas a saldar – arranjaria uma maneira de oferecer mais um benefício. De facilitar o pagamento.
Com sorte, o preço que já estava de banana, cairia para o de banana no final da feira, hora da xepa.
Fosse qual fosse a intenção de quem estivesse do outro lado da linha o resultado do lado de cá era o mesmo.
O homem no banco estava desolado. Mas decidido a não deixar a peteca cair.
Encheu-se de esperança. E autoconfiança.
Se daria certo, saberia em breve.
- Pois, pense aí. Pense direitinho. Mais tarde eu ligo de novo.