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SUJEITO À DESAPROVAÇÃO

Penso sobre o ato de presentear.

Melhor que o ato, a arte.

Existem obras-primas nesse quesito. Seus autores. Seus artistas.

O assunto não me sai da cabeça desde que ela me pediu a sugestão. Semana passada.

Não sei se chegou a me pedir. Ou se apenas dividiu a inquietação.

Sabia que se tratava de um daqueles casos em que a pessoa pede um conselho, mas não o seguirá.

Lá no íntimo tinha a sensação de já ter passado por aquilo. Com ela.

Não me incomodo. O dito popular já alertou. Se fosse bom, seria vendido. Não dado.

Eu mesma incomodo meus interlocutores mais próximos. Queixam-se de que só faço o que quero mesmo depois de ter ouvido toda sorte de ponderações e dicas (para não dizer conselhos).

Nada mais justo.

A gente quer ouvir para clarear as ideias. Ter mais opções. Outros pontos de vista.

Não apenas para seguir. Cumprir. Acatar.

Fiz de conta que não sabia o final. E pus-me a enumerar possibilidades, sugestões.

A fazer um tratado sobre o ato de presentear e o que eu achava bonito e interessante nele.

Sendo rechaçada a cada nova colocação, ainda mandei uns links para facilitar o acesso a algumas das coisas que havia citado.

Há muito tempo deixei de dar presentes.

Respeito o bloqueio. Acredito que fala muito sobre mim. Embora não tenha parado para desvendar suas entrelinhas.

Em chute rasteiro arrisco dizer que tem a ver com entrega. Ou desentrega.

Que representa um distanciamento entre mim e a quem gostaria de presentear – como surpresa ou resposta a uma data oficial de presenteios. Aniversário. Comemorações outras.

Em última instância, ou primeira, um distanciamento de mim mesma.

Em um regalo há mais de nós ou do outro?

Importa nos representar em um gesto ou objeto ofertado?

Ou seria mais seguro tentar adivinhar o que a própria pessoa se daria em busca de um risco zero?

Vale o argumento de que a dificuldade vem do fato de a pessoa em questão “ter tudo”?

Alguém tem tudo?

O que poderia ser algo mesmo para quem tem tudo?

De onde vem o medo de se aproximar, por meio de uma escolha, de quem tem tudo?

Errar? Não agradar? Expor-se?

Já recebi presentes muito especiais.

Descobertos por meio de interpretações sutis sobre o que combinaria comigo, me agradaria, acrescentaria algo a minha vida ou me abriria a algo que sinalizei ter interesse, mas ao qual nunca dei chances de concretização.

Penso que os presentes mais bonitos têm essa junção poética e tênue entre o que somos e o que o outro é.

A primeira variável inclui nosso repertório, nosso gosto, nossa preferência, nossos conhecimentos de mundo. E nossas possibilidades financeiras.

Há um aceitar-se embutido.

Na segunda, tem a leitura da pessoa em questão.

Opções.

Desvendá-la.

Descontrui-la.

Ter a coragem de subverter todo o óbvio e mais fácil caminho.

Surpreender. Surpreender-se.

E ainda assim estar sujeito à desaprovação.


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