Tudo começou com uma discussão (no bom sentido) no grupo de pais da escola, sobre o envio de brinquedos nas mochilas. É proibido. Ou não recomendado. O que aliás, não é novidade. Com nossos filhos no primeiro ano, quem está lá desde o maternal sabe disso há pelo menos cinco.
Dessa vez, o recado da professora especificava um objeto. O hand spinner – que chegou a ser liberado por ela, desde que usado apenas na saída. Agora, o ideal seria que mesmo nesse pós-aula, fosse evitado.
O brincar havia perdido espaço para uma espécie de competição. E não apenas para definir habilidade no uso do objeto. Mas para comparar quantidades, modelos, materiais, sofisticações. Em última instância, preço, imagino.
Não me vi impelida a entrar na pendenga argumentativa. Nunca tivemos grandes desafios para cumprir o conselho da escola. Primeiro, por acreditar nele. Segundo, porque utilizo-o para cortar eventuais desejos infantis de transgredir o combinado.
É proibido. Digo.
Mas tal pessoa leva. Escuto eventualmente.
Mas você é você. Eu sou eu. Tal pessoal é tal pessoa. E vamos seguir o que deve ser feito sem olhar para a vida do outro.
Coisas assim se transformam em oportunidades de falarmos sobre valores adjacentes. Ampliar a temática. O mundo é vasto. Não podemos tomar tudo e todos como referência. Escolhas são necessárias.
Passei muito tempo da moda do spinner sem saber que ela existia. O primeiro contato foi a partir de um texto na Internet que dava conta de um acidente, quase morte por asfixia, de uma criança que havia engolido pequenas partes do brinquedo.
Como o assunto me era totalmente desconhecido cheguei a pensar que era lenda urbana. Por coincidência, no mesmo dia, em um aniversário de criança, fui surpreendida pela febre se dando ali mesmo na minha frente.
Não me compadeci com ela. Não gosto de modismos. Não gosto do argumento ‘todo mundo tem’ e não tinha visto nenhum apelo para comprá-lo a não ser esse – vou ser a única a não tê-lo.
Pois conviva com isso – pensava intimamente. Porque não se tem tudo. E o mundo é vasto. Qualquer coisa, mais tarde, na terapia, tudo será ressignificado.
Tenho reparado nesse sentimento aflorando nessa fase das crianças – da minha e das que convivo e convivem com ela. Do não pertencimento. Do não ter. Do querer ter. Da grama mais verde ser a do vizinho. Da inveja.
Como pecado capital acho bom ou inevitável que percebam que existe. Mas desejo sobretudo que descubram caminhos para lidar com ele. E o transformem em algo que possa ser ignorado ou, numa perspectiva mais altruísta, que sirva para incentivar a realização de algum sonho/objetivo.
E que a pessoa mesma se sinta responsável por ele. Mesmo tendo sete anos. Porque meu papel de mãe tem limites. Como minhas possibilidades. Minhas ambições. Minhas prioridades. Meu saldo bancário.
Ela terminou ganhando um hand spinner.
Não passou de um. Não virou febre doméstica. E não toma o seu tempo mais do que uns segundos.
Ontem descobri que estava em minha bolsa.
Foi parar lá em algum momento ao cruzarmos a porta da escola. Dia desses. Seu esconderijo está insuspeito há dias.
Quando me entregou, a pequena demonstrou estar mais confortável em cumprir o determinado do que em transgredi-lo.
Missão cumprida.
Pelo menos uma.