Eu e minha irmã Vitória temos uma forte ligação.
O que acontece, ademais, com nós todos, os doze irmãos Barbosa.
Por termos a idade parecida fomos e somos companheiras de fases. De vida.
Já escrevemos vários textos uma para a outra que trazem toda esta trajetória.
Ela tornou público o dia em que ouviu que ficaria “no canto” após o meu nascimento – e não entendeu do que se tratava – até o dia em que eu cresci e consolidamos a irmandade que nos une de forma visceral e espiritual.
Fisicamente estamos longe há alguns anos. Começou quando vim morar em Brasília. Aumentou quando ela foi morar na Suíça, onde vive até hoje.
Nesse tempo tivemos vários reencontros.
Nesses intervalos nos falamos e nos vemos e compartilhamos muito via Internet.
Já fizemos bolo ao mesmo tempo via Skype.
Tomamos cerveja ou vinho ao mesmo tempo tagarelando via WhatsApp.
Ao vivo, desafiamos a nós mesmas e a muitas pessoas – mesmo da família – imbuídas que somos de viver com intensidade a parceria.
Quando não há festas oficiais fazemos as nossas.
Criamos regras de convivência. Porque somos muito iguais e muito diferentes.
Queremos várias coisas ao mesmo tempo agora.
Uma delas, ouvir música.
Aí, se dão os maiores dos B.Os registrados por nós.
Ela quer escolher o repertório. Eu também. Combinamos uma quantidade de música para cada uma, como uma redução de danos. Mas ela sempre quer fazer uma marmelada.
Também é regra aceitar e curtir a escolha alheia. Mas ela sempre quer boicotar o meu Setlist.
Diz que não é bom. Que é devagar. Que é sério. Que não dá para dançar. Que é o ó. Faz careta. Reclama.
Quando a coisa vai longe ela se senta em sinal de protesto e espera que chegue a sua vez.
Vitória é uma mulher sofisticada. Elegante. Tem gostos refinados. Seu porte inibe.
Sairia por sisuda e tímida. Não fosse tão moleca e surpreendente.
O que tenho que aguentar quando ela assume o posto de DJ seria terrível para mim não fosse por esse efeito. Uma das surpresas que pode causar nos desavisados – e até a mim – inclui seu gosto musical.
Não vou dar mais detalhes aqui – mas inclui funks (desconhecidos por mim), boleros, pagode dos anos 80. Mixes atuais que ela descobre na Internet. E gente de quem não se ouve mais falar. Como Adriana e a Rapaziada.
Ela ama aquilo tudo. É até bonito de ser ver.
Eu não assumo isso. Ao contrário, reclamo. Mas me rendo. Canto e danço junto.
Não faço como ela. Meu protesto não vai tão longe.
Por vezes acordo de madrugada para vencer o fuso horário e podermos conversar.
Hoje foi um desses dias.
Era madrugada quando iniciamos um diálogo.
De repente, ela me envia um vídeo.
E se recusa a continuar comigo até que fosse visto.
Aleguei estar sem memória no celular.
Sem concessão.
Devia ser algo importante.
Fiquei incomodada até conseguir abrir o arquivo.
Pensei que vinha algo da mulher.
Mas o remetente era a menina.
Ri como uma criança.