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TRAÇO DO ARQUITETO

Eu tinha uma missão para o final de semana.

Acompanhar meu cunhado e sobrinho suíços em um city tour por Brasília, aproveitando que eles teriam dois dias na cidade.

A missão me deixaria um tanto nervosa se eu tivesse que liderá-la. Mas fui também uma convidada para o passeio. Quem nos conduziria, dirigindo, escolhendo os lugares e falando sobre eles, era uma amiga da família.

Eu seria também uma turista, revendo o lugar onde moro há mais de quinze anos e me ocupando apenas em percorrer pontos já conhecidos, com o olhar renovado de um rio que nunca é o mesmo.

Primeira parada, a clássica Torre de TV. Esperar a fila, que ainda não era grande, mas se tornou imensa até que saíssemos de lá, andar. Entrar no elevador cheio.

Ouvir pedaços de conversas. Observar o olhar curioso das crianças. Sentir a emoção de quem estrearia na aventura.

Com o tempo a altura parece ter diminuído. A cidade também. Eu sabia de cor o que veria, mas o obvio pode ser surpreendido. O que pensamos e sentimos do alto nunca é a mesma coisa da última vez.

O vento frio.

O sol. Tentando cumprir seu papel.

As fotos.

As explicações sobre o desenho de Brasília.

O céu. Azul. Contundente. Hipnótico.

A Esplanada dos Ministérios.

O percurso diário em um domingo de pouco trânsito. Gente esparsa.

Catedral, Museu da República, Biblioteca Nacional. Apontar o teatro. Admirar anjos, esculturas e vitrais.

Entrar desavisada em exposições de artes plásticas.

O Congresso Nacional. O côncavo. O convexo.

O piquenique da família no gramado.

O pai escorregando em cima de um papelão. Filho no colo.

O passeio na praça. Dos poderes. Os três.

Caminhada que parecia longa. O sol já conseguia aquecer.

Continuar para ver ao longe os palácios. Acesso limitado. Proibido. Não há moradores. Significados e funções esvaziados.

Seguir pela ponte. Parar no meio do caminho para admirá-la.

Falar sobre o lago e sua frota de veículos. Tantos. Para tão poucos.

Chegar ao ponto.

Pontão.

Onde veríamos as águas próximas. Tremulando em convite para contemplação. Ao menos.

Passeio acabando.

Era pouco, afinal.

O bastante para entender os traços do arquiteto.

O sonho de Juscelino.

Para acordar do cotidiano e se deixar surpreender pelo que está sempre lá e pode ser renovado.

O olhar nosso.

De cada dia.


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