A pedagogia Waldorf incentiva alguns tipos de habilidades e práticas na primeira infância, como subir em árvore, andar de perna de pau, pular corda.
Conseguir vencer esses desafios diria muito sobre a evolução dos pequenos e sobre suas possibilidades de avançar até mesmo na escola.
A minha infância não teve muito isso de pular corda. Nada de perna de pau. E algo de subir em árvores – desbravei muitas goiabeiras e mangueiras no Quilombo dos Barbosa.
Com a corda eu sequer consigo contar até dez nos pulinhos que, hoje, também se mostram eficazes para os adultos e mostram seus méritos em um bom programa de exercícios físicos.
Com tanta tecnologia invadindo a infância e o fato de as brincadeiras populares e de rua e na natureza terem se transformado em programas turísticos de tão raros, cheios de planejamento e previsibilidades, achei que a corda estivesse aposentada para a maior parte dos infantes. E deve estar mesmo.
Mas tive uma feliz surpresa quando levei um pedaço de corda que encontrei em casa e, portanto, não era oficialmente de pular, para a comemoração de um aniversario na praça da minha quadra.
Achei que o objeto seria largado lá sem nem ser identificado. Como se fosse um ET, como se tivesse serventia ignorada.
Para meu espanto as crianças fizeram do objeto seu ponto focal na festa, que era simples e tinha como melhor e maior atrativo ser em área pública e oferecer um brincar livre, em que uma árvore baixa, de poucos, mas ótimos galhos foi também alvo de exploração.
Mas voltando para a corda, fiquei cheia de contentamento ao ver um monte de pequenos usando-a para se divertir.
E não só pularam. Fizeram com ela um sem-número de estripulias e correrias e brincadeiras criadas ali na hora ou já muito antigas e correndo no DNA da infância.
Eu observava de longe. Sorriso no canto da boca.
Fui tomada pela sensação, boa, de estar errada sobre pensar que a corda estava morta e enterrada no repertório das crianças urbanas.
Achei que fui mesmo tola em pensar assim. Ou mesmo de achar que saber usá-la era exclusividade de alunos Waldorf, com tão poucas unidades no Brasil e em Brasília.
Ainda bem que me enganei.
Suspirei aliviada.
E torci para que as cordas estejam sempre à mão de meninas e meninas. Mais do que as telas – de celulares, computadores, tablets, Ipads e tudo o mais que existir nesse sentido.
Torci para que além de correr no sangue pular corda seja um ensinamento transmitido de pais e mães para filhos e filhas. Que conste sempre no repertório e na sacolinha de brinquedos e piqueniques.
Que eles recebam e aceitem o convite de desbravar o mundo dos (e aos) pulos, das cordas e do que a imaginação permitir – com algo simples e empoderador, que mexe com tantas habilidades e tanto com a criatividade.
Às crianças, a infância.