Conta as horas às avessas.
Já não precisa desse horário.
Porque não cumpriu o compromisso previsto.
Não deveria estar aqui.
Poderia estar chegando.
Com o coração apontando nervosismo e felicidade.
Pelo objetivo alcançado. Pela estrada que ficara para trás. Pela distância rompida.
Pela coragem de ir.
No entanto, não saíra do lugar.
As horas passaram e podiam tê-la levada para longe. Para onde queria ir.
Mas ficou. Ficou em lugar que também quis.
Supostamente seguro. Que acolheu o seu corpo tanto quanto seria acolhido se tivesse partido.
Ficou na cama.
Porque pareceu o lugar que mais precisava e desejava.
Dormiu.
O sono foi entrecortado por impressões confusas de que tinha ido e já estava chegando.
Para ela foi suficiente ter pensado, ter tentado. Podia ter sido mais incisiva, ter buscado estratégias diferentes, ter chegado, enfim?
Pensa que sim.
Dentro dos silêncios havia tanto a ser dito.
Dentro das palavras muitas podiam ter sido evitadas.
Dentro das certezas tantas dúvidas.
Como saber?
Como depurar?
Queria testemunhar sua alegria.
Fazer parte dela.
Viver o que foi planejado e não teve tempo para acontecer.
Remendar o tempo, curar feridas, esquecer as mágoas.
Abraçar forte e de corpo inteiro.
Deixar a pele conversar com sua linguagem própria, sua língua própria. Sua língua.
Sair de mãos dadas com sorriso bobo. Rodopiar valsinhas pela rua bonita.
Conhecer o universo que ouvia nas crônicas de viagem. Torná-lo próximo.
Mas tudo não foi. Tudo ficou ainda e de novo como o que está por vir. Como o que pode vir a ser.
E a estrada passou. Mas sem ela. Sem eles.
A estrada da vida promoveu o encontro, testemunhou o desencontro, deixou para depois o reencontro.
Parecem entranhados um no outro.
E estão. E estarão.
Porque aconteceu.
Foi assim.
E quando o movimento for a volta, o caminho ao contrário, qual será a rota?