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SOBRE FAZER A DIFERENÇA

Admiro quem faz a diferença por estar sendo quem é.

Pelo poder de observar e de agir, com discrição e contundência.

Em pequenas atitudes.

De forma rápida.

Vou colecionando recortes de atitudes assim e de pessoas que as protagonizam.

Um dia, meu cunhado pegou uma carona comigo.

Em segundos, tratou de recolher o lixo espalhado pelo carro.

Aquele que a gente acha que não dá tempo de retirar porque só entrou e saiu, rapidamente, entre um trajeto e outro, no meio da rotina assoberbada.

Fez a diferença.

Minha amiga viu que minha filha estava constipada e colheu, numa hortinha perto da minha casa, várias ervas indicadas para o tratamento de casos assim, fez uma imersão e preparou, sem delongas, uma inalação que ela mesma supervisionou.

O resultado foi uma enxurrada de secreção sendo posta para fora pelo grande poder da natureza.

Fez a diferença.

Essa mesma amiga é uma coletora de mudas, galhos, raízes. Por onde passa, fica atenta à natureza circundante. Sabe o nome das coisas e para que são indicadas. E mesmo se não tiverem nome e apenas efeito estético, ela as recolhe.

Em casa prepara seus vasos e faz tudo brotar de novo, como a semeadora que de fato é.

Quando me visita traz flores silvestres daquelas que não teriam valor de mercado, mas que para caso de amizade e de gentileza fazem o papel de uma floricultura inteira.

Ela também tem armazenado os resíduos orgânicos para doar à cuidadora da hortinha perto da minha casa, a quem conheceu quando frequenta a área verde para descobrir novas ervas ou recolher as que já conhece e com as quais nos trata.

É ela que para na frente das casas para pedir uma folha disso ou daquilo. Um pedaço de mandacaru para fazer um lambedor. Certa vez, cansado das incursões da minha amiga, o homem negou um naco do cacto. Ela não se conformou. Insistiu até que ele consentisse com a divisão do seu recurso.

Fez a diferença.

Um amigo considerando que eu devia fazer mosaico me presenteou com os utensílios básicos que eu necessitaria para iniciar-me na arte.

Fez a diferença.

Meu irmão Renan costuma presentear, há décadas, todas as crianças da família e, mesmo que não sejam sangue do sangue, com as quais convive, com livros infantis de ótima qualidade. O tempo passa e ele coleciona depoimentos do quanto essa atitude foi importante na formação dos novos leitores.

Fez a diferença.

Fui tomar café da manhã com um grande amigo. Ele me perguntou algo acerca do meu celular. Eu disse que não sabia, que o aparelho estava sem memória e tal. Ele se ofereceu para dar uma olhada e entre uma mordida e outra do misto de pão francês, saiu organizando tudo e deixou tudo nos trinques. Não sem me chamar de desorganizada antes. Mas...

Fez a diferença.

Há muitos anos, décadas, minha mãe descobriu que uma tia vivia num hospício em São Paulo. Fez uma promessa que a tiraria de lá. Brinco que foi precursora dos preceitos da luta antimanicomial. Maria Marques foi morar conosco e nos ensina muito desde então.

Sobre loucura e sanidade. Sobre generosidade.

Fez a diferença.

E os exemplos seguem. Para a minha sorte.


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