Os gestores públicos detentores de cargos eletivos costumam fazer um balanço dos seus cem primeiros dias de atuação, após a posse. Não sei de onde vem a escolha do número. Mas resolvi seguir a tendência e, por ocasião do centésimo texto de Um por dia, vou falar de como tem sido essa caminhada.
Primeiro, avalio o objetivo do blog, o de ser espaço de cura e redenção e concluo que está sendo cumprido. O compromisso diário também, a despeito de todos os outros. A falta de tempo, de ânimo, de inspiração ou da velocidade do motor ou da roca que gira o fio da vida.
Isso enseja comprometimento, planejamento, disciplina. E embora eu chegue aqui sem a nota máxima para esses itens, garanto que melhorei um pouco em cada um deles ou que, pelo menos, passei a encará-los como variáveis necessárias.
Aqui vou tecendo o que gostaria que fosse tecido. Paciência, aprendizado, erro, troca, aprimoramento, intimidade. Para quem passou anos a fio sem escrever muito ou escrevendo quase nada, uma centena já me parece um número grandioso. E é. Mas é só uma primeira etapa vencida.
Em princípio, a ideia é que o projeto como foi gestado, dure um ano. Então, muito chão ainda está por vir. Mas estou contente com o que vejo até aqui.
Meu olhar diante das coisas, pessoas e do mundo mudou. Meus ouvidos ficaram mais abertos. Meu olfato anda aguçado, tentando rastrear novos aromas que me tragam razões de escrever. As papilas gustativas estão atentas a cada novo sabor ou ao mesmo sabor percebido de forma diferente ou com novos sentidos e significados. O tato anda agitado. Quero tocar e sorver pelo toque tudo o que puder ser traduzido por ou em palavras.
Então, inteira assim, toda à flor da pele, preciso escrever. E tudo pode ser meu mote. Todos podem. Isso chega a ser excesso. Chega a me atormentar. Chega a me acordar na madrugada. Virei toda atenção. Sou teia de aranha. Sou pólen. Sou armadilha. Sou peneira. Sou lupa. Sou binóculos. Ligada sem interrupção a uma necessidade/obrigação.
As brigas com a inspiração são recorrentes. Gosto quando o texto vem inteiro. Desliza sobre mim feito camisola de seda. Mas nem sempre é assim. Por vezes, praticamente não vem. Tem que ser forjado. É quando seleciono e conto as palavras e elas raramente fecham a quantidade devida. É quando tudo vira tormento e autocrítica pesada.
Aí, cumpro outro objetivo. O de escrever sem pretensão ou expectativas.
A reação das pessoas, a interação, as trocas, os elogios ou, por outro lado, a falta disso tudo também é um bônus dessa atividade. É uma atividade de formiga, um fazer silencioso que não tem respaldo em nada. Não sou escritora, não sou intelectual, não sou acadêmica, não tenho livros lançados, não estou nas altas rodas literárias. Não tenho nenhum currículo capaz de me alçar a qualquer posição que não seja ao anônimo autoflagelo de escrever diariamente.
Trago junto um parceiro, Mauro Siqueira. Sem ele não estaríamos no 100. E ele sabe que foi quem me colocou na pilha de abrir o blog, quem fez a criação da página e quem o alimenta quando envio os textos.
O meu desejo para hoje é ver, em breve, o número 100 chegar a 365.